“Run, Forrest, Run”…
Quem viveu os anos 90 e nunca se imaginou no lugar de Forrest Gump correndo sem parar e sem destino? A frase se tornou famosa, mas para algumas pessoas há muito mais por trás de seu significado. Há um motivo maior, um estímulo e uma paixão…
Hoje vou contar como essa paixão começou na minha vida.
Quando se é jovem basta uma caminhada de 10 minutos para perder facilmente os 2 kg conquistados no almoço de domingo. Mas ao passar dos 20 você percebe as primeiras mudanças do seu corpo… Depois dos 25 ele começa a se rebelar e aos 30 ele definitivamente não quer mais obedecer sua vontade e passa a seguir a fórmula inversa. Então você come uma maça, corre 2 km e ainda sai 200 gramas mais pesada.
Mas a questão é que seu corpo não te deixa sentir isso “apenas” na balança… Ele começa a emitir uma série de outros sinais que te mostram o que significa “envelhecer” fisicamente… Pressão alta, dores nas articulações, respiração ofegante com um lance de escadas e mais uma porção de pequenos entraves que começam a tornar sua rotina levemente mais tensa e sacrificada.
Aí você, que sempre praticou algum tipo de exercício e nos últimos anos relaxou, percebe que precisa voltar….
Foi assim que depois de dois anos parada após os términos das aulas de dança eu comecei a prometer que ia correr. Isso mesmo, prometer. Porque apesar das caminhadas em efeito sanfona (corre um dia e pausa três semanas) a corrida mesmo ficou só na promessa por três anos. Mesmo com o incentivo de uma equipe de corrida incrível que eu ajudava a organizar e conquistar patrocínio… Mesmo com o desejo de sair correndo por aí sem dificuldade… Mesmo com tudo isso, nada… Até que chegou a hora de mostrar que eu era capaz de cumprir as minhas próprias promessas… E pode somar nessa conta uma visita ao cardiologista, encaminhamento à nutricionista e o remedinho de pressão para que fosse, definitivamente, a hora de tirar os projetos do papel…
Os treinos começaram lentamente, naquele efeito corre 30 segundos e caminha 03 minutos… Esse foi o ritmo por longos meses, até que o corpo ganhou resistência e confiança para começar a inverter o reloginho. Lá se foi quase um ano até eu ser capaz de correr de verdade e encerrar 2015 com a minha primeira inscrição garantida para dali a três meses. Eu teria, então, 03 meses para conseguir correr uma prova inteira de 4 k sem intercalar com caminhadas. E aqueles três meses passaram velozes e brutais. Até que o dia 06 de março chegou.
A semana anterior tinha sido puxada, muito trabalho e quase nenhum treino. Mas a ansiedade e o desejo de provar que eu era capaz de fazer aquilo estavam a mil! E daí se isso significava acordar às 03h da manhã em pleno domingo e pegar a estrada ruma à Sampa e correr ao lado de uma porrada de mulheres ensandecidas (sim, estreei na WRun, e não poderia ter sido uma escolha mais simbólica)…
Era quase como ir a um primeiro encontro… Coração acelerado, sangue gelado pelo nervosismo, muita expectativa e um brilho sem fim no olhar. E quanto mais você se aproxima do ponto de partida, mais o clima do ambiente toma conta de você… Em uma prova feminina, isso também significa muuuita gente falando e um perfume adocicado no ar que tornou aquele momento marcado na memória olfativa para sempre, de um jeito tão simples e inesperado. Tantas mulheres ali, uma ao lado da outra, correndo por motivos diferentes, com um milhão de pensamento passando pela cabeça enquanto os pés se revezavam rumo à diversas conquistas tão pessoais e íntimas. E eu estava lá, entre elas, energizada por três anos de promessas, um ano de treino, alguns quilos a menos e a vontade de nunca mais parar!
Não foi uma prova de velocidade, mas de resistência e drible, porque era muita gente em pouco espaço. Mas nada vai pagar aquela sensação incrível e cheia de energia positiva do mulheril descendo e subindo em um mar rosa e com vozes finas no túnel que se transformou por um instante em um gigantesco jardim. Era de arrepiar… Mesmo que seja tudo efeito da emoção pela primeira prova e ver uma promessa se cumprindo, é quase indescritível.
No meio do caminho, um cartaz com mensagens de motivação para animar o corpo, que depois da metade da prova já começava a mostrar os primeiros sinais de cansaço pela primeira aventura sem paradas ou caminhadas intercaladas. Nessa altura eu já tinha deixado para trás uma companheira de prova, mas ela sabia que aquilo era importante pra mim e não via problema em ficar na caminhada sozinha.
Quando o terceiro quilômetro chegou, minha mente começou a me desafiar… “Caminhe só um pouquinho, não tem problema. Suas pernas estão pedindo, faz isso por elas…” Mas não! Meu coração é quem mandava nesse dia e ele me dizia a cada segundo para não parar, a não ser em caso de morte.
Foi então que veio a placa anunciando o último km, os últimos 500 metros…. 400 metros… 300 metros… 200… 100…. E a cada uma das placas o coração acelerava mais, as pernas ganhavam de novo toda aquela energia cheia de vontade de vencer e um sorriso ia surgindo no rosto cansado e suado… Até que vem a curva da reta final, e ver a faixa da chegada foi quase como ver um oásis em meio ao deserto, mas repleto de troféus um tanto pessoais e cheios de significado. Aí não tem como… Você termina aquele pedaço final como se sua vida dependesse daqueles poucos metros, mesmo achando que vai cair antes da linha de chegada, com um sorriso gigante no rosto e algumas lágrimas querendo cair dos olhos. Mas não é de tristeza, e sim de realização. Realização pela promessa cumprida, por mais uma conquista tão importante, por saber que a vida é feita de tantas pequenas surpresas e detalhes e que aquele sonho de criança podia ser realidade.
Aí quando você finaliza a prova, vem o momento de pegar seu prêmio – uma medalha que simboliza todo seu esforço e comprometimento – e admirá-lo por alguns minutos, ainda incrédula, desfrutando aquele restinho de sensação incrível, mesmo sabendo que você terá dores o dia todo por isso. E acredite, serão as dores mais felizes e reconfortantes da sua vida!
Depois vem todo aquele processo de água, frutas, barrinhas, sorvete e tudo mais que um patrocinador achou justo proporcionar. Você saboreia cada um deles, mas sua mente ainda está percorrendo os últimos momentos daquela manhã, olhando ao redor e analisando cada olhar cansado, mas satisfeito.
Fomos pra casa. E o sono nunca foi tão implacável durante o caminho de volta… Correr dá sono. E quando você descarrega toda aquela adrenalina da ansiedade, dá mais sono ainda. O resto do dia trouxe as dores. Mas mesmo que andar fosse quase como tomar uma surra a cada passo, o sorriso continuava lá, estampado na cara, exatamente como no primeiro dia em que consegui correr 1 km sem intercalar com a caminhada….
Momento “orgulho” na WRun |
Ainda eletrizada pela conquista, garanti minha inscrição logo para duas provas noturnas em Campinas. Até que, três meses depois, chegou a primeira etapa. A Night Run é muito mais do que só uma corrida. É um evento cheio de energia, música e muita adrenalina. Quem já participou, sabe. Tem um clima todo especial e único. E muita, muita gente. Mas não bastasse esse super tempero, São Pedro mandou a pimentinha: chuva! Primeira prova noturna e com chuva. E sozinha. Dessa vez sem ninguém pra me esperar ou pra deixar pra trás. Era eu por minha conta e risco. Alguns amigos estavam lá pelo caminho, nos encontramos antes e depois. Mas a corrida é um esporte que tem a incrível capacidade de mostrar que só depende de você, ao mesmo tempo em que tem uma multidão ao seu redor te incentivando a continuar. O coletivo trabalha silenciosamente. E algumas vezes você vai travar batalhas engraçadas com alguém que te ultrapassa na prova e vai criar disputas particulares só pra se motivar. E funciona! E quando o cara que ia correr 10K te passa (e você só ia correr 5K) e chega na sua frente, por mais que isso possa parecer desanimador, é um reativador de energia que deixa seu gás a mil outra vez. Resultado da prova? Desempenho melhor que a primeira em Março, redução do pace e uma incrível sensação boa na linha de chegada. E a chuvinha do início carimbou com chave de ouro a experiência. Agora era só aguardar a próxima dali há três meses…
Night Run – Etapa 1 |
Enquanto isso os treinos continuavam firmes e fortes. O tabu da academia se quebrou (e vai ganhar um post só dele em breve!) e ajudou a melhorar o condicionamento e resistência. E a vontade de correr só aumentou. Os tempos iam melhorando a cada dia, um tênis novo me deixou mais ansiosa pela sua chegada do que um livro novo (e quem me conhece entende o que eu quero dizer com isso) e no meio do percurso o desafio da Run or Dye deu uma quebrada divertida na rotina com uma prova super colorida e alto astral no final de Agosto em Sorocaba.
Muita cor e diversão na Run Or Dye Sorocaba |
E depois do mês mais interminável do ano, Setembro chegou abrindo os portões para a quarta prova oficial. E lá estava eu na minha segunda etapa da Night Run. Dessa vez sem chuva… O tempo passou o dia ameaçando, mas na hora da prova nada de gotas do céu. Só depois. Ao invés disso, muita energia positiva, adrenalina e todo aquele agito que uma balada proporciona nas noites de sábado, só que em pleno asfalto. E bora correr! A empolgação era grande e a meta era melhorar o resultado. Até que uma câimbra maledeta deu sinais de vida no final do primeiro quilômetro… “O que? Parar? Nem pensar! Estica a perna e continua correndo que para!”… E seguindo essa ordem do coração, o meu corpo continuou em frente, mais lento por algum tempo, mas obediente e resiliente sem saber direito de onde vinha aquela força que ficava maior que a dor. O segundo quilômetro passou e deixou a dor lá com ele. Resultado? Melhor tempo, melhor pace e mais calorias que a etapa anterior! Meta alcançada! Não fosse aquela câimbra, os índices seriam ainda melhores. Mas ainda assim saí mais uma vez feliz e realizada.
Time Manicury muito bem representado na Night Run – Etapa 2 |
A cada nova medalha, não é apenas mais uma para a coleção, mas o símbolo de mais uma vitória e o desejo de saber qual será o próximo desafio…
Tudo isso só reforça o quanto precisamos valorizar cada uma de nossas conquistas, nem que seja apenas uma por dia. Elas nos tornam pessoas melhores, mais perseverantes, positivas e confiantes. E nos fazem seguir em frente, mesmo com todas as barreiras e dificuldades que o mundo coloca em nosso caminho a cada dia. E muitas, muitas vezes são trinta dificuldades para apenas uma conquista. Mas é isso que torna cada uma delas tão especial. E sabe qual é a melhor parte nisso tudo? Só depende de nós…
Temos, algumas vezes, a mania de dizer que não realizamos nossos sonhos por causa de outros fatores ou outras pessoas, mas nós somos os únicos responsáveis por nossas realizações. Isso pode significar termos que fazer escolhas que nem sempre serão simples, sacrifícios que nem sempre serão fáceis. Mas tudo se resume ao nosso próprio desejo e vontade de fazer acontecer.
Hoje a corrida não é só o símbolo de uma conquista. É uma necessidade, uma paixão. E não quero mais parar… O castigo de dois meses por conta de uma cirurgia foi quase uma tortura. E pensar que ele vai se repetir já começa a me dar aflição. Mas voltar para a prova seguinte e enfrentar cada novo km é como dar drogas a um viciado em abstinência. A endorfina vicia e exerce um efeito transformador de nos deixar mais leves, positivos e prontos. Correr é aquele momento quando seu pensamento clareia, suas dores emocionais se vão e seus anseios encontram abrigo. E, por que não dizer, é também a catapulta para tantas outras conquistas que ainda estão por vir e sonhos que ainda vamos conquistar…
Ah, e sabe do que mais? A inscrição para a Bravus em Dezembro já está garantida ;P
E você, já celebrou sua conquista de hoje?