“Eu concordo com Jon, mas agradeço a Jobs”…
Essa pode ser provavelmente uma das respostas mais comuns ao efeito polêmico que a entrevista de Bon Jovi ao Jornal The Sunday Times vem causando após o vocalista da banda acusar Steve Jobs de matar a indústria musical…
"Os jovens de hoje perderam toda a experiência de colocar os fones de ouvido, aumentar o volume, pegar a capa do disco, fechar os olhos e se perder em um álbum", critica. "[Eles perderam também] a beleza de pegar sua mesada e escolher um disco apenas pela capa sem saber como ele é." Bon Jovi prevê ainda que, no futuro, as pessoas vão perceber o erro que a geração atual está cometendo ao privilegiar singles e MP3s. "Pode anotar o que eu digo, a próxima geração vai parar para se perguntar o que foi que aconteceu. Foi uma época mágica. Odeio soar como um velho, mas eu sou. Steve Jobs é pessoalmente responsável por matar a indústria musical", completa.
Jon, eu adoro você e você sabe, mas nesse caso, você está mesmo velho… Mas não se preocupe, pois certamente tem uma geração enorme tão velha quanto você e eu por aí…
Com o ‘advento tecnológico’ apresentado por Steve Jobs e Apple, hoje basta um clique para ter o novo sucesso tocando em seu computador, mp3, celular ou no aparelhinho mágico que você desejar. Isso sem contar os milhões e trilhões de downloads piratas que circulam internet afora. É inegável a facilidade que isso trouxe, e seria inevitável essa evolução. Parar o crescimento tecnológico seria como barrar a evolução natural das coisas. É claro que, assim como tudo na vida, isso traz benefícios e malefícios.
Realmente não há nada que substitua a experiência de botar lá o fone de ouvido com a capa do disco nas mãos. Esse, aliás, era meio que um pedaço mágico da adolescência nos anos 80 e 90. Ou então surrupiar escondido aquele lançamento que o seu tio comprou e você estava louca para ouvir… Eu ainda me lembro de quando ganhei meu primeiro aparelho que tocava cd como presente de aniversário e tudo que tinha para ouvir era um cd com os clássico da música infantil que a Droga Raia distribuía nas promoções que faziam o maior sucesso, causando até falta de cd disponível! O passo seguinte foi juntar a grana das mesadas e presentes para comprar a primeira trilha sonora! Daí pra frente, a festa era pedir cd de presente de aniversário, natal, dia das crianças…. E esperar ansiosamente pelo dia só para abrir a caixinha, colocar o disquinho no rádio e ficar o dia inteiro olhando a capa… Tinha gente que emprestava, trocava, fazia cópia em fita K7 (sim, sou dessa época, e daí?!)… Depois ainda peguei uma fase em que saía caçar alguns álbuns nos sebos da vida….
Quem chorava nesse período era o saudoso LP, que agonizava seus últimos suspiros, tornando-se uma peça importante apenas para os colecionadores de plantão. Depois foi o K7 quem viu seu triste fim. E agora parece estar chegando a vez dos CDs. O formato mp3 domina o mercado (o legal e o negro) de todas as formas. Rádio de carro, por exemplo, já nem anda fazendo mais muitas peças com entrada para cd… Só o buraquinho para conectar o pen drive, cartão de memória ou qualquer outro conector tão simples quanto apertar um botão (e esse não pula na lombada nem risca seu disco!).
É o preço da evolução. O grande desafio é, mais uma vez, se reinventar. A maior parte da indústria musical hoje deve depender bem mais da renda proveniente dos shows do que da venda de seus álbuns. Ou você tem uma explicação melhor para tantas bandas e artistas do passado estarem retornando para turnês que jamais esperaríamos ver outra vez com tanto fervor? Com sabe-se lá quantos anos nas costas e loucos para apenas descansar um pouco? Prazer? Talvez uma pequena porcentagem. Mas eu ainda acho que a palavra para esse caso é “sobrevivência”.
E polêmicas sempre existiram! Na época dos CDs a discussão girava em torno dos absurdos financeiros cometidos pelas gravadoras. O preço do disco do seu artista preferido era simplesmente inviável com tantos impostos e taxas. Quem vai querer comprar um disco de R$ 40,00 se na internet agora tem tudo para baixar de graça? Ah, ok, mas e os direitos autorais e o respeito pelo trabalho de seu artista predileto? Aí é que está! Eu respeito o trabalho dele! Mas a indústria não respeita a minha realidade financeira e a de metade do mundo!! Se vendessem o mesmo disco por R$ 15,00, eu garanto que uma multidão ia abrir mão de baixar pela internet para ter o original em mãos só pelo gostinho nostálgico de ouvir o álbum olhando pra capa!!! Tudo bem que agora também é possível respeitar o trabalho do seu artista e baixar a música através de sites que vendem singles do jeito certinho… Mas vivemos no mundo real, gente! Até quem critica a pirataria até o momento do último suspiro vai baixar através do link gratuito ao invés do pago!!! É errado? Óbvio que é! É falta de consciência? É! Mas e a indústria, o que ela está fazendo para mudar isso??? Eu também não estou vendo o preço dos ingresso para os shows melhorarem!! É caro fazer um show? É! Mas a indústria não ganha pouco com isso, em alguns casos até mais que alguns artistas…
Não discordo de Jon, compreendo perfeitamente sua colocação e sim, também sinto falta da nostalgia que os LPs, K7s e CDs provocaram em nossa vivência. Sinto mesmo! Mas repito: não dá para barrar a evolução…. O negócio é buscar novas formas de conquistar o público. Também concordo que vivemos com um público cada vez mais exigente e difícil de agradar, mas se até a padaria precisa melhorar seu pãozinho francês básico para sobreviver, porque a indústria musical não tem???
E não é culpa só do artista não!!! É da indústria mesmo!! Mas vamos parar por aqui que me empolguei e a discussão já está indo para capitalismo, e esse tópico pode ser longo, muuuuito longo….
Mas Jon, ainda sou sua fã!!! rs…
lipe fonseca
20 de março de 2011 at 20:39esta é uma discussão tão interessante, pois sempre penso que não envolve apenas a indústria da música, mas também indignação e dignidade dos artistas. eu, que baixo muita música, faço questão de pagar pelo que acho que vale a pena. mas quero ouvir antes… essa é a vantagem.