Follow Us

Os desafios não ditos da maternidade retratados no cinema

Os desafios não ditos da maternidade retratados no cinema

A Mouthful of Air – Respire Fundo e The Lost Daughter – A Filha Perdida, são longas que trazem à tona questões e desafios não falados sobre a maternidade. E é bom estar preparado para seus impactos…

Respire fundo. Poucas vezes o nome de um filme consegue traduzir de forma tão literal o sentimento que o espectador terá ao vivenciar sua história. Pois é exatamente assim que qualquer pessoa precisa agir ao acompanhar a trajetória de Julie Davies, uma mulher que sofre de depressão pós parto e tem seu drama narrado em cada passo desde o primeiro ano de seu filho Teddy até o nascimento da pequena Rachel.

Confesso que caí como uma aventureira no longa… Gosto de Amanda Seyfried, achei a capa do longa belíssima e a sinopse parecia esconder uma trama psicológica intrigante. Mas eu definitivamente não estava pronta para o que viria… E os primeiros quinze minutos já são suficiente pra te deixar parcialmente sem ar (vou evitar spoilers e tentar poupar meu emocional de uma segunda vivência por meio deste texto).

O episódio nervoso que sucede essa primeira parte nos leva a acompanhar o restante do filme com a mesma tensão que o marido de Julie, que não sabe ao certo como lidar com o quadro depressivo da esposa, mesmo se esforçando. E vamos ser sinceros…. Quem é que realmente sabe?

A cunhada, por sua vez, nos representa ao julgar a atitude da mãe em desespero. Os mesmos questionamentos que ela arremessa pra cima de Julie ao reencontrá-la são os que passam por nossa mente ao ver o filme. E, como seres humanos, mesmo sabendo que é errado, é tão difícil não julgar… Não se envolver…. Mas só quem vivência a depressão sabe o peso disso em sua trajetória. Enquanto tudo isso acontece, Julies encontra em sua personagem Pinky (ela é escritora e ilustradora infantil) uma metáfora para seus pensamentos e angústias.

Depois de passar o resto do filme tensa, me perguntando se a esperança que Pinky começava a elucidar teria um final feliz, fui abarrotada pela realidade e meu coração dilacerado. Não tem como sair daquele final inteira ou intocada pelos acontecimentos, tentando entender como fica o coração de cada envolvido na história, desde Julie, até seu marido e filhos.

Mesmo sem spoilers, não tem como esconder que você precisará de muitos lenços ao final, sobretudo se for uma mulher…

Amanda Seyfried consegue passar as dores da personagem com tanta delicadeza e aproxima o espectador de uma realidade muito dura e ainda tão ignorada pela sociedade: os traumas e dramas da maternidade e a depressão por parto. Para a atriz, embarcar no projeto foi ainda mais especial, já que ela fala abertamente sobre depressão e toma antidepressivos há anos.

Em geral a maternidade é concebida como um ato de pureza e alegria única e incontestável. E ninguém negará isso jamais, porque de fato é! O grande problema é que pouco se fala sobre o outro lado, das dificuldades, desafios e entrega excruciante que isso pode ser para as mulheres.

É esse outro lado que a diretora Amy Koopelman retrata em The Mouthful of Air – Respire Fundo, assim como Maggie Gyllenhaal o fez com a impecável interpretação de Olivia Colman em The Lost Daughter – A Filha Perdida.

Neste segundo longa não vemos a depressão pós-parto como foco, mas a pressão constante da maternidade e a completa anulação da mulher em função de suas novas responsabilidades maternais.

Com uma estratégia narrativa diferente, a história vai e vem no tempo, mostrando por meio de observações feitas por uma velha Leda em férias que a levam a reviver detalhes de seu passado e os traumas que nunca realmente cicatrizaram.

Em comum os dois filmes mostram a auto cobrança que as mulheres se fazem em tentar serem mães perfeitas e os questionamentos sobre se realmente seriam capazes de cuidar bem e prover aos filhos tudo que lhes é necessário e gostariam de poder. E não, para uma mãe parece que elas nunca serão suficientes, que nunca realmente atingirão as próprias expectativas (que dirá as da sociedade).

Essa pauta abre espaço para uma discussão quase interminável sobre o quanto isso é consequências de anos e anos que atravessam gerações em uma sociedade machista e de cobranças pela perfeição maternal que ainda levará centenas de outros anos para mudar (se é que seja possível), versus a própria natureza da mulher em tentar entregar toda sua alma ao gerar uma vida. Essa ligação é forte demais para que se possa explicar ou concluir cientificamente tudo que ela representa e seu “peso” (no bom sentido) para a mãe. É uma complexidade incompreensível para qualquer pessoas que não faz parte dessa relação.

Dois longas impactantes e reflexivos que colocam na tela conversas das quais a maioria foge no cotidiano duro e desgastante de qualquer mãe, mesmo com a beleza presente em cada detalhe (e que também está presente de forma singela e tocante nos dois filmes). Um mergulho emocional profundo e arrebatador, não recomendado para mães ou mulheres em estado emocional delicado.

Você encontra A Filha Perdida na Netflix e Respire Fundo na AppleTV.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *