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Crise de ansiedade e economia mundial

Nada como uma crise de ansiedade para ativar nossa motivação em atacar o pote de balas do escritório, esgotar todos os vestígios de chicletes da bolsa, adentrar o freezer de sorvetes da cantina e contribuir para o crescimento sazonal disparado do mercado de chocolates…

Vários podem ser os propulsores de uma crise de ansiedade com sintomas alimentícios. Pressão no trabalho, desentendimentos em grupo, problemas familiares, amores mal-resolvidos, decepções, empregos em vista (ou fora de vista), orçamento furado (mas esse nem chega mais a ser um causador de crise de ansiedade, pois já faz parte do cotidiano do país, que faz das tripas coração pra sobreviver, com um jeitinho de “sou brasileiro e não desisto nunca”), depressão generalizada após sessões de overdose de comédia romântica no sofá de casa, etc etc etc…

Mas o problema em si nem são exatamente os motivos da crise, e sim as conseqüências geradas por ela, que no fim acabam se tornando o motivo de uma nova crise. Por exemplo: você está esperando ansiosamente uma resposta de emprego após cinco meses sem fazer uma única entrevista. Aí você senta no sofá, feito grevista do PT em época de governo sindical Lula, e não sai de lá por nada nesse mundo, apenas aguardando o segundo em que o telefone vai tocar. Mas é claro que, além da televisão, antes de armar acampamento você prepara o arsenal alimentício que vai te distrair e sustentar em seu tão desesperadoramente longo aguardo. E então tem início oficial a “crise de ansiedade”. Após algumas horas de suplício, você já não pode ver mais qualquer vestígio do tampo da mesa de centro, que se encontra encoberta por copos, guardanapos, embalagens de chocolates, pacotes de salgadinhos, amendoim e garrafas de refrigerante. E nada do telefone. No dia seguinte, você dá contiuidade à saga do telefonema, reabastecendo o arsenal com doses mais fortes de calorias e carboidratos. E assim por diantes, durante todo o decorrer de uma semana. Até que, na sexta-feira, bem no último suspiro da tarde, quando o pessoal de Brasília já está em pleno descanso de final de semana (porque o final de semana deles é bem mais longo que a nossa semana), o telefone toca. Nesse ponto a história pode tomar dois rumos distintos:

a) após a conclusão do telefonema, você dá pulos de alegria pela conquista do emprego, e no mesmo instante liga para a turma combinando uma comemoração na pizzaria. Já com alguns vários quilos a mais após uma semana se empanturrando sem parar, você fecha o sábado comendo pedaços de pizza recorbertos por muita mussarela e os mais tentadores sabores imaginados na face da Terra. No domingo só lhe resta afinal passar um dia de rei/rainha, com uma dor de barriga insuportável e muitos quilos a mais, e com o terço na mão, rezando para que ela passe até o final do dia, para você naõ correr o risco de passar o seu primeiro dia de trabalho como “trainee sanitário” da empresa, e quando se dá conta disso, não consegue sair do banheiro com vergonha da primeira impressão que voce causou. E é então que a conseqüência da crise de ansiedade se torna causadora de uma nova crise de ansiedade, quando você se vê obrigada a correr atrás dos prejuízos calóricos, fisícos e emocionais proporcionados pela mesma.

b) após a conclusão do telefonema, você desliga o telefone e começa a chorar até que lhe falte o ar. Então você respira, vai até o congelador da geladeira e pega o último e derradeiro pote de sorvete de 2 litros que restava (sim, aquele que você havia guardado para saborear durante todo o mês ao lado do seu namorado), senta novamente no sofá, liga um filme bem dramático e passa o fim de semana inteiro chorando em cima do sorvete. Na segunda-feira, ainda em estado de recuperação fase-a-fase pela derrota, você se olha no espelho do guarda-roupa e não acredita para o que vê. E é então que a conseqüência da crise de ansiedade se torna causadora de uma nova crise de ansiedade. Gorda e sem emprego, você liga para o namorado e desaba no telefone, trazendo a tona todos os problemas de sua vida (desde aquele baldinho que o colega de sala roubou no jardim de infância até a olhada fatídica no espelho). De quebra, seu namorado, que passou o final de semana inteiro aturando seu estado profundo e incontrolável de fossa (que, vale lembrar, veio como a gota d’água após cinco meses depressivos de desemprego e falta de dinehiro e auto-estima), cansado de ouvir suas chorumelas, termina com você. Sim, por telefone ele termina o namoro de 3 anos com você. E o que você faz? Ou vai até a padaria/supermercado mais próximo reabastecer o estoque de chocolates e sorvetes (e elimar de vez o resto do seu orçamento, ou entrar em um grau mais grave de crise, por não ter dinheiro para reabastecer esse estoque), ou vai até o banheiro atrás da navalha e do secador enquanto coloca a banheira para encher….

Ou seja, pela opção a ou b, o resultado é o mesmo. A crise de ansiedade passa sempre por um ciclo vicioso contínuo e interminável. Para fugir dela, você tem algumas possíveis soluções práticas e de resultado imediato (ou nem tanto):

  • Você se torna adepto da alimentação frutariana (em caso de crise, o organismo agradece).
  • Você fica sócio de uma academia (que vai frequentar com mais assiduidade em determinados períodos do ano).
  • Você manda tudo pro ar, pega o ônibus mais próximo, sem destino e sem dinheiro, e viaja até resolver que é hora de voltar.
  • Você simplesmente pensa: “eu sou normal”, e utiliza sua crise emocional como uma perspectiva de crescimento e amadurecimento pessoal para não se deixar cair numa dessa novamente (se bem que, os “normais” sempre caem nessa novamente).
  • Você elabora seu próprio plano estratégico imediato contra sua crise de ansiedade.

(OBS: Contemplamos aqui o exemplo emprego, mas a receita se estende para qualquer problema que desencadeie uma crise de ansiedade)

Mas, apesar dos pesares e dos pontos negativos que a crise de ansiedade agrega, assim como tudo na vida, há também aqui um lado positivo: o mercado de chocolates, sovretes, balas, doces e guloseimas em geral deve grande parte de sua receita às crises de ansiedade. Da mesma forma, elas são responsáveis pelo salário de muitos terapeutas, psiquiátras, endocrinologistas, academias, fábricas de produtos emagrecedores em geral, etc. Ou seja, a crise de ansiedade contribui ativamente para o giro econômico mundial em larga escala.

Tá vendo só… Quem foi que disse que eu não sabia escrever sobre economia….

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