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A magia de envelhecer

OlharVocê tem medo de envelhecer?

Eu nunca tive. Tive medo de ver a infância ir embora, mas não de envelhecer. E antes que você diga que é a mesma coisa, não é!

O medo de envelhecer está em enfrentar o novo. Já o medo de ver a infância ir embora está em deixar as coisas boas que você pensa que nunca mais poderá reviver no passado. Mas aí é que está o grande lance da coisa toda: será que precisamos mesmo deixar no passado? Se no fundo somos todos eternas crianças, por que então não podemos trazer as coisas boas para a velhice com a gente?

É somente quando nos damos conta disso que percebemos o quanto perdemos à toa! O quanto deixamos de viver as coisas boas por um medo que deveria nos apavorar muito mais do que qualquer outro: o de ser julgado!

Essa é a diferença entre a infância e a velhice… Quando somos crianças, não há temores sobre o que vão pensar de nossas ações mais tolas e inocentes (no máximo o puxão de orelha que os pais dariam por uma travessura). Ah, mas tente fazer uma banalidade quando adulto e você verá o que é ser julgado!

Pare com isso, desencana de uma vez, e comece a curtir as coisas boas de envelhecer…. Que aliás, vão muito além de liberdade, carros e relacionamentos.

Depois que você passa aquela fase tola da adolescência e a transição para a vida adulta, vem o ciclo que finalmente nos liga de volta à infância…

Por que quando a gente envelhece perde a vergonha…

Deixa de ser contido para não ser notado apenas por saber que não há preço em aproveitar as coisas boas da vida.

Você não liga mais se tem ou não idade para tirar foto com o Todinho no mercado (ou ainda fugir dele, mesmo sendo um tremendo marmanjo!), por que para você não é só o Todinho, mas o ritual da infância que não volta mais e que deixou saudades..

Não se importa em bancar o doido de sair cantando ou rindo sozinho na rua.

Nem se vão te responder quando disser oi para um estranho que passa ao seu lado.

Você passa a finalmente entender que expectativas só são boas quando não envolvem o desejo e esforço de outras pessoas, mas somente as suas próprias ações. E que quanto mais baixo você conseguir manter o nível de suas expectativas, mais chances de ser feliz você será.

Aprende que é possível se contentar muito mais com o simples do que com o luxuoso.

Que nem sempre a realidade será como no sonho, mas que ela pode ser muito melhor se você for apenas capaz de mudar o seu ponto de vista.

Você começa a perceber que o valor das coisas está nos detalhes, e não no resultado de grandes ações, como sempre imaginou.

Que a riqueza de um sorriso pode valer mais o do que qualquer coisa no mundo, e que uma viagem bem feita pode trazer experiências muito mais enriquecedoras e lembranças inesquecíveis do que o carro do ano ou a mansão em Angra.

E que nem sempre o mais rico é o mais esnobe. Ou que o mais pobre é o maior dos sofredores.

Que menos maquiagem não quer dizer menos beleza, e que por trás de um Hugo Boss nem sempre está o cara mais legal do mundo.

Que todos os seus dramas do passado se tornarão finalmente as piadas das quais prometemos rir um dia.

Que vídeo-game, você queira ou não, é como um casamento: para sempre. E se tiver separação, será trágica!

Você finalmente entende que todos os seus perrengues se tornarão histórias das quais seus filhos e netos terão orgulho e te farão contar nas tardes de tempestade regadas à bolinho de chuva (e isso não precisa ser coisa do interior, basta uma mesa, algumas cadeiras e um fogão funcionando, seja no sítio ou no apê em plena Paulista).

Que a música a tocar no rádio deixará de ser apenas mais um sucesso das paradas para te arrancar um sorriso do nada e trazer lembranças secretas que só você – e mais ninguém! – conhece.

Que os seus relacionamentos anteriores te fizeram sofrer um dia, mas que hoje você é uma pessoas muito melhor graças à eles.

E que cada decepção ou mágoa te ensinaram uma lição diferente que você vai carregar pelo resto da vida. E algumas vai passar adiante.

Que sorrir não é pecado, que regime não precisa ser tortura e que a rua não é tão perigosa quanto te diziam (mas que também não vale a pena sair por aí dando mole como você pensava antes).

Que nem toda refeição será a última da sua vida, mas que se for, melhor que seja bem saboreada e não te deixe pesado demais para não derrubarem seu caixão no enterro.

Ter um carro será essencial, mas você começa a dar mais valor às caminhadas pelo bairro. E vai se exercitar mais, muito mais! Não apenas por prazer, mas agora também por necessidade.
Que trabalhar é preciso, mas não adianta trabalhar se você não puder viver. E que se você vive pelo seu trabalho apenas, alguma coisa está fora do lugar.

Que um projeto quase nunca dura ou acontece exatamente do jeito que você planeja.

Que ser flexível é preciso e se adaptar à mudanças é uma condição de sobrevivência.

Que dizer o que pensa não significa ofender o próximo. E que as palavras que você diz sem pensar podem atingir outras pessoas como flechas em chamas se você não tiver cuidado.

E que nem sempre o silêncio é a melhor estratégia, mas ele ainda será sempre um grande e importante aliado.

Que ser tranquilo é bom. Mas que às vezes você também pode (e precisa!) ser intempestivo e impulsivo.

E que agir sem pensar sempre trará consequências, quer você queira ou não.

Que herança você constrói em vida.

Que família nem sempre é a de sangue, mas aquela que sempre esteve o seu lado.

E que amigos não são aqueles que só te elogiam ou só te criticam, mas sim os que são sempre honestos com você e te colocam nos eixos quando você começa a desviar da sua rota.

Você vai perceber que se olhar para o passado por um breve instante, mas do jeito certo, terá muito mais do que pensou conquistar um dia. E se não conseguir enxergar isto, vai perceber que é hora de correr atrás do tempo perdido, por que nunca é tarde para recomeçar ou tentar de novo.

Vai aprender que o respeito vai além da gentileza e que pode mudar o mundo de alguém.
Que o segundo que você deixou passar não volta nunca mais e que ser espontâneo às vezes faz bem.

E vai aprender e fazer mais um monte de coisas que jamais caberiam em uma lista ou um devaneio em véspera de feriado.

Mais do que qualquer coisa, quando você envelhece começa a perceber que cada fase da vida tem seus momentos especiais e que você precisa se concentrar mais nelas do que em planejar demais um futuro que você não tem qualquer garantia de saber como será. Mas que nem por isso precisa deixar para trás tudo que já viveu e que cada um desses momentos te levaram a ser quem você é hoje….

E que envelhecer não é motivo para medo… É uma dádiva e um presente para cada um de nós.

0 thoughts on “A magia de envelhecer

  1. Reply
    Débora Donazan
    19 de junho de 2013 at 20:57

    Concordo… Estava mto pensativa sobre esta questão hj, e qdo li até me arrepiou… Obrigada Le, ótimo texto…Bjo

  2. Reply
    Letícia
    19 de junho de 2013 at 20:58

    Fico feliz, Dé!!! Com sua visita e por ter gostado do texto… Beijooo!!

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