Você gostou de “Os outros”, com Nicole Kidman?
Então não pode perder “Ilha do Medo”. Mas não se preocupe: ao final, Leonardo DiCaprio não está morto. Apenas perturbado. Muito perturbado… Assim como muitos telespectadores poderão ter saído do cinema após ver o longa dirigido por Martin Scorsese, baseado na obra (sempre primorosa) de Dennis Lehane…
Tudo começa com a chegada do Xerife Teddy Daniels e seu parceiro Chuck à Shutter Island, onde está instalado um hospício para onde são mandados os dementes mais perigosos do país. A dupla é enviada para lá com a missão de desvendar o desaparecimento misteriosa da paciente Rachel Solando, presa por afogar seus três filhos no lago. No entanto, a cada passo que os investigadores dão, a neblina no local se mostra mais obscura e permeada de pontas soltas, o que leva o xerife Daniels à acreditar firmemente que existe uma conspiração envolvendo experiência radicais e metódos ilegais para tratamento dos pacientes em busca de crir possíveis ‘armas de guerra e assassinos destrutivos’ para os EUA, numa comparação indisfarçada ao nazismo.
Ao mesmo tempo, Daniels precisa lidar com os fantasma da morte de sua mulher, falecida em um ato incendiário provocado por Andrews Laddies, um dos pacientes de Shutter Island.
Mas como “surpreendente” é o nome do meio de Dennis Lehane e “ousado” o de Scorsese, a ação conjunta do autor e do diretor levam o espectador a ficar de queixo despencado quando menos se espera. Sempre seguindo a narrativa viciante de Lehane, no momento em que acreditamos que o mistério está se revelando, estamos apenas caindo nas garras ineligentes de um autor que não mede esforços para abrir caminhos à imaginação.
É assim que acompanhamos a descoberta de Daniels em torno de sua própria loucura: Teddy Daniels é, na realidade, Andrew Laddies, que após descobrir que sua mulher, Dolores, maníaco-depressiva, afogou os três filhos no lago, atira na esposa e ateia fogo na casa do lago. Daniel, Chuck e toda a conspiração imaginada por ele não passavam de uma invenção de sua mente para fugir da verdade e da culpa por não ter salvado seus filhos. E a Rachel, a tal paciente desaparecida, é, na verdade, a personagem criada em sua mente para ocupar o nome de sua filha. E de onde vem o ‘paciente 67’? Simples: na teoria de Daniels, o hospital enconde o 67º paciente, que seria Andrew Laddies, o assassino de Delores. O que ele não imaginava é que ele era o tal paciente 67….
No fim, é o espectador quem sai da sessão perturbado, ainda se perguntando qual seria a real verdade no filme….
Eu sou fã incondicional de Lehane. Quem me conhece já sabe. Infelizmente, não tive a oportunidade de ler o livro antes do filme, mas ainda o farei. Com isso, assim que soube de mais uma adaptação de sua obra (as outras foram ‘Sobre Meninos e Lobos’ e ‘Medo da Verdade’), já fiquei em polvorosa esperando pelo resultado. Tanta expectativa me deixou decepcionada na primeira hora do filme, quando o ritmo parecia caminhar para lugar nenhum através de um a história previsível e sem grandes relevâncias dignas do autor. Mas o melhor estava guardado para o final. Aliás, destaque para o pôster do longa, onde o slogan “alguém está perdido” diz muito mais do que poderíamos prever….
Sem querer ser repetitiva, ainda acho que nada se compara à obra literária, onde a mágica de Lehane é pura e avassaladora. Mas o filme se deu bem, e DiCaprio fez um insano bem competente (e olha que eu não vou com a cara dele desde Titanic, quando o mundo falou tanto a seu respeito que enjoou). Já Mark Rufallo parecia um bocó, bobão do início ao fim, só fazendo paisagem (e olha que desse eu gosto! rs). E o cara que todo mundo pensava que era o malvadão da história foimuito bem encarnado por Ben Kingsley, sempre um gentleman…
Scorsese soube fazer. Conseguiu entregar um longa cheio de referências (inclusive a si próprio, com a neblina inicial de onde surge a balsa que leva os policiais à ilha, numa nítida comparação à ‘Taxi Driver’), capazes de apagar todas as pontas soltas (elas existem e são várias!) e bem ao estilo noir-policial-suspense-psicológico. Mas vamos concordar, ninguém bate Clint Eastwood em “Sobre Meninos e Lobos”, vá!
Em tempo: essa é a quarta parceira de DiCaprio e Scorsese no cinema…
Por fim, destaque a não menos perturbadora trilha sonora com clássicos que deram o tom certo à trama, incluindo John Cage com seu “Music for Marcel Duchamp” e “Symphony no. 3 Passacaglia”, de Krzysztof Penderecki, que lembra em muito “O Iluminado”… De arrepiar e tirar o fôlego!
Confira o trailer: