36 anos e uma pandemia depois, finalmente está chegando o grande dia… Então bora fazer um mini flashback?!
Falta 1 (U-MA) SEMANAAAAAAA!!!
36 anos e uma pandemia depois, está chegando o grande dia de conferir uma das sequências mais aguardadas do cinema para qualquer pessoa que viveu nos anos 80-90: Top Gun: Maverick.
É preciso muita calma nessa hora… Aquela coisa do respira e conta até 10. Afinal, falar de uma sequência de Top Gun pode ser algo complexo. E se você não é da geração que viveu essa experiência, vou tentar explicar um pouquinho os por quês…
Top Gun foi o marco de toda uma geração
Eu nasci em 1986, exato ano de lançamento de Top Gun. Mas por um bom tempo parece que longa era um lançamento anual durante quase toda a minha infância… Só me dei conta que o filme era mais velho quando cresci e fui entender melhor. Mas até que é compreensível… Naquela época o filme saía primeiro no cinema, depois de uns 90 dias ia para as locadoras, aí era lançado para vendas/locação em VHS (ou alguns anos depois, DVD) e levava meses ou até anos para chegar à tv aberta. Então o sucesso se prolongava por muito tempo a cada nova etapa de contato com o público. Sem contar o título de blockbuster que o longa rapidamente alçou, o que garante sua permanência por mais uns bons anos sempre no topo como uma referência.
Em 86, seu ano de lançamento, Top Gun foi o filme número um em bilheteria, seguido por Crocodilo Dundee (acredite se quiser, hahahaha), Platoon e Karatê Kid 2.
“Mas se você nasceu no ano do filme, como entende tanto do seu significado se mal era gente na época?“. Fácil de responder: eu cresci ao lado de um tio adolescente na época do video-cassete, do vinil e da fita K7. Top Gun era praticamente a representação da adolescência da geração dele, que adorava motos, sonhava com caças cruzando os céus, passava pelo ritual militar dos 18 anos como uma questão e honra e curtia toda a azaração dos anos 80 (quando a conquista à moda antiga era bem mais legal do que conhecer pessoas e marcar encontros por apps). E me lembro direitinho que quando meu tio saía para trabalhar (eu dormia muito na casa da minha avó durante as férias e finais de semana) eu pegava o vinil com a trilha do filme escondido para escutar e depois tinha a manha de deixar a agulha no mesmo ponto que estava quando peguei antes dele voltar pra casa. Além de fazer o mesmo processo com o vídeo quando ele alugava e deixava por lá dando sopa, rs… Ahhhhh, a saudosa infância dos anos 80-90… No fundo ele devia saber, porque quando ganhei meu primeiro walkman dos meus pais e dele, as fitas que vieram junto foram uma cópia do LP da trilha de Top Gun e de These Days – Bon Jovi (que eu tamém ouvia escondido), rs… E eu acho que os fabricantes e K7 eram incríveis, porque o tanto que ouvi aquilo e a fita não desfez, é quase um mistério…
Bom, continuei crescendo e vendo Top Gun na Sessão da Tarde ou Temperatura Máxima na Globo cada vez que passava. E nutri uma paixão nada secreta pelo Tom Cruise toda a adolescência, a ponto de comprar duas biografias da vida dele, personalizar pelo menos uns 3 ou 4 cadernos com foto dele na capa na época do ginásio e guardar cada recorte que encontrava nas revistas. Mas essa paixão diminuiu quando ele separou da Nicole e começou a ficar meio surtado, até desaparecer depois que eu virei gente grande e percebi que ele não era um cara tão bacana assim (mesmo sendo bom produtor e ator e tal). Mas ainda acho o sorriso dele lindo e de derreter um coraçãozinho gelado…
Aí em 1991 o filme ganhou a paródia Top Gang, feita pelos irmãos Zucker e estrelada por Charlie Sheen. Um clássico da comédia e que vale muito a pena. Mas, com isso, é mais um motivo para Top Gun voltar à cena como referência da paródia.
Não bastasse tudo isso, ainda temos a trilha sonora. E toda essa história aí que contei (Top Gun, infância na vó, tio adolescente, ouvir os LPs de rock dele escondido, meus pais, etc etc etc) tiveram uma influência gigantesca para a minha formação de cultura musical e preferência por gêneros como o rock e o pop (mesmo ouvindo muito mais que isso e não tendo nada contra quase nenhum ritmo). O fato é que a trilha de Top Gun estava em TO-DOS os LU-GA-RES, RÁ-Di-OS e evento em que você pudesse estar. O álbum vendeu 9 milhões de cópias na época e Take My Breath Away (música tema gravada por Berlin) ganhou o Oscar.
Top Gun marcou uma geração, se tornou uma febre e conquistou o mundo. TODO MUNDO queria a jaqueta bomber Top Gun na versão masculina e/ou feminina (e eu sou frustrada por até hoje não ter tido uma). Todo mundo queria usar óculos aviador e as vendas dos Raybans aumentaram 40%. Todo mundo queria ter ou ser o Tom Cruise (de acordo com a sua preferência). Nos Estados Unidos, a quantidade de jovens alistados nas forças armadas aumentou 500% após o lançamento do filme. Tenho quase certeza que até os jogos de vôlei de areia podem ter tido um upzinho na época se existissem pesquisas para medir isso, porque aquelas cenas de gatos descamisados jogando com os corpos ensebados de óleo no sol e um monte de testosterona em ebulição marcaram toda uma geração de mentes femininas (e masculinas que desejavam ser aqueles caras)….
Se você não viveu os anos 80-90, talvez nunca entenda tudo que Top Gun representa.
Não teve um ser vivo dessa geração que não chorou a morte de Goose pelo menos uma vez na vida. Ou que não se emocionou (ou pelo menos sentiu um arrepiozinho no braço) ao ouvir Top Gun Anthem no volume máximo. Ou se imaginou ao lado do Crush ouvindo Take My Breath Away.
Durante anos e anos mil boatos surgiram sobre um possível segundo filme. Mas jamais seria a mesma coisa… Até que um dia deixou de ser boato. E, confesso, deu medo…
Primeiro em 2010, quando veio a primeira possível confirmação. Jerry Bruckmeyer e Tom Cruise estavam dentro do projeto e conseguiram convencer Tony Scott a voltar também. Mas com o falecimento do diretor em 2012, tudo foi pausado e Top Gun: Maverick só voltou à pauta em 2017.
Mas com um projeto inicial que alcança todo esse tamanho e proporção de influência cultural/social, o risco de transformar uma continuidade em um desastre é gigante. Aí some-se a isso todas as coisas malucas que Cruise fez em sua vida pessoal (e nos bastidores da carreira), as brigas de ego com Kilmer desde o primeiro longa e a dificuldade em conseguir recriar algo atemporal de forma tão equilibrada.
Bom, é o Tom Cruise, né. Se ele quer, ele faz. E ele fez…. Se Top Gun foi o longa que colocou o astro nos holofotes do mundo e garantiu toda sua carreira depois disso, Maverick pode ser o seu plano de aposentadoria e o encerramento de um ciclo com um simbolismo gigante (mesmo sabendo que dificilmente o cara queira se aposentar. Ele se tornou dependente do que faz, não consegue parar).
Mas é claaaaaaaaaaro que um projeto dessa grandeza não aconteceria sem emoções.. Então vieram muitos boatos de surtos do Cruise com a equipe nos bastidores (nem vamos nos ater à isso, foco no que importa) e uma pandemia… de dois longos anos… Lançamento adiado e o risco de ferrar toda a expectativa e plano de lançamento que vinha sendo executado (imagina o frio na barriga de, depois de mais de 30 anos, você fazer uma continuação, anunciar data e lançamento e ter que parar tudo por uma pandemia! – eu morria do coração…).
Mas passado o furacão, o dia está chegando… 26 de Maio de 2022. Alguns dias antes, vieram música e trilha sonora para aquecer os motores e traçar o plano de vôo.
Aperte os cintos e bora pro lançamento
Você sabia que lá em 86 Top Gun foi um dos primeiros filmes a ter premiere internacional pelo mundo, com empurrãozinho da ideia do próprio Tom Cruise? O astro, que é um apaixonado pelos moldes tradicionais da indústria cinematográfica, entende como ninguém do marketing hollywoodiano e ama um tapete vermelho. Podemos dizer até mesmo que sua paixão por adrenalina e encarnar as cenas perigosas de verdade são parte dessa essência, de quem entende que isso atrai sim atenção e bilheteria para um longa. Afinal, um filme não é mais feito apenas dos 120 minutos em tela. Mais do que nunca, na era digital, todos os detalhes contam.
Logo, não seria diferente aqui…. Cruise começou a tão esperada maratona de lançamento do segundo filme à altura. Primeiro chegou em um porta avião pilotando um helicóptero personalizado. E nesta semana ele literalmente transformou Cannes em uma Cruiselândia (leia essa matéria que vale muito para entender o clima da coisa como um todo). E mostrou, de novo, porque é um nome tão influente na indústria cinematográfica.
Cruise pode ter todos os defeitos do mundo como pessoa, mas como profissional é alguém que não gosta de deixar a mínima margem para o fracasso. Com ele o “feito é melhor que o perfeito” não tem vez. Tem que ser feito perfeito. E pra ontem. Essa paixão é evidente e transcende qualquer barreira (talvez inclusive seja um dos fatore que o torna um humano não tão bom), mas não podemos negar que é contagiante.
Imagine um cara que só topa fazer uma continuação quando o roteiro realmente tem uma história boa para contar e aí, já que ele topa, ele mesmo organiza um treinamento pesado para que os novos atores entrem em forma e operem câmeras por conta própria, com a luz e enquadramento certos, dentro de caças em alta velocidade, de ponta cabeça e com ninguém menos que Tom Cruise e Jerry Bruckheimer na supervisão (e cobrança)… Um cara que dispensa dublês em seus filmes e encara o perigo com medo mesmo. Um cara que encarna o herói da vida real e salva a galera nos bastidores. Um cara que constrói um avião exclusivamente para a sequência de um filme e que até a China redireciona os satélites para descobrir se não era uma nova engenharia americana… Um cara que faz uma sequência que consegue nota quase perfeita em um dos sites mais conhecidos de avaliação de filmes.
Se você é ou já foi cinéfilo um dia, é impossível não se identificar com a paixão que Cruise fala de cinema. Ele, que lia cada função no crédito dos filmes e queria entender o que cada um fazia (eu também), que sempre foi um curioso pelos bastidores e pela produção (eu também!) e que chegou lá (eu, no caso, não…. fui pra publicidade mesmo que era o mais próximo que dava na minha realidade).
A verdade é que qualquer produção em que Cruise se envolve vira uma Cruiselândia… ele pode até não ser creditado oficialmente… mas tem dedo dele em tudo. É quase como se ele fosse o dono da porra toda…. deve ter o lado bom disso, mas também não deve ser fácil não… Imagina você ser o Diretor e ter um ator te dizendo o que fazer o tempo todo… Claro que construção coletiva é sempre positiva. Mas Cruise não tem jeito de que aceita muito o coletivo. Parece mais do tipo “vai ser do meu jeito e acabou”. Pra quem consegue se adaptar à isso e ainda ficar feliz com o projeto é ótimo, mas nem pense em chegar em um projeto querendo peitar o homem que vai dar ruim…
E Val Kilmer já provou isso lááááá nos primórdios do primeiro Top Gun… Pois é… A rivalidade entre Cruise e Kilmer era real! Não era só em tela que o protagonista e seu antagonista se degladiaram, não… Kilmer tinha uma carreira já um pouco mais consolidada que Cruise na época e queria ser o mocinho. E isso levou à uma briga não só coma Paramount, mas com Cruise também. E reza a lenda que a coisa virou briga de braço mesmo, mas nessa Kilmer saiu vitorioso rs. Logo, aquela energia de embate tão real em tela não era só encenação, não…
Maverick talvez não seja apenas o grande personagem da vida de Cruise, mas também o que melhor o representa. Rebelde e revolucionário, não segue regras e prefere tudo à sua maneira, mas é incrivelmente bom no que faz. Ele é como aquele date ordinário: incrível por uma noite, mas péssimo em se comprometer. Você sabe que não vai dar em nada e não quer de volta de jeito nenhum, mas sempre solta um sorrisinho de escanteio quando lembra…
Triste mesmo é só não termos Charlie de volta, já que o Goose morreu e volta só em lembrança mesmo. O par romântico do primeiro filme, interpretada por Kelli McGillis, não volta mesmo. Kelli sequer foi procurada e o motivo é a recusa de Hollywood em aceitar um fato da vida: o envelhecimento, sobretudo nas mulheres. No programa Cinema com Rapadura a galera comentou algo bem justo: poderiam ter chamado ela não para par romântico, mas para uma ponta mesmo, como Kilmer. Seria uma justa homenagem. Mas né….
Aliás, parênteses para uma curiosidade aqui… A cena de amor entre Maverick e Charlie no primeiro filme, que virou um clássico (e geralmente era a parte cortada na sessão da tarde), que corre toda em um jogo sedutor de sombras e luzes azuis tem mais do que apenas um motivo sedutor: a cena foi gravada muito depois do longa pronto! A galera achou que estava faltando uma pimentinha e chamou a dupla de volta, mas Kelly já estava em outra produção e com outra cor de cabelo…. Aí Scott usou a jogada de edição para resolver o perrengue e a cena virou um clássico… Detalhes que mudam tudo!
Bom, no meio de todo esse alvoroço, a verdade é que você pode chegar aos cinemas na próxima semana tão inebriado pelo clima que o lançamento tem gerado, tal qual esta mera redatora que vos fala, que pouco importa se a história de Top Gun: Maverick é realmente boa… Tem dinamismo, cenas incríveis, novos caças, moto e velocidade, vôlei na praia, descamisados jogando vôlei na areia, a velha jaqueta para cobiçarmos, músicas das antigas, músicas novas, participação especial de Val Kilmer (simmmm, não poderia faltar!), Tom Cruise de volta ao papel que o lançou como astro e seu sorrisinho maroto… Quem precisa de mais, não é mesmo?
#GooseForever #SaudadesCharlie
E que venha LOOGOO o dia 26 de maio.
PS: 45 dias depois o longa já vai pro Streaming! \o/