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Literatura Eclética

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No final do ano (sim, faz tempinho que não atualizo isso aqui) de férias, no bem bom, mergulhada em muitos filmes, livros e guloseimas, eu literalmente (em todos os sentidos da palavra) viajei no universo da leitura. Estava precisando de um momento de introspecção, um espaço só para mim por alguns dias.

E foi assim que indo de um delicioso romance inglês, passando por um passeio descontraído ao redor do mundo e culminando no sombrio universo dos vampiros, desfrutei de quinze dias inspiradores e um tanto ecléticos.

A odisséia começou quando fui à biblioteca procurar um livro e acabei saindo de lá com dois: “A Fantástica Volta ao Mundo – Bastidores e Registros de Viagem”, de Zeca Camargo (motivo de minha ida), e “Victoria”, de Rosamunde Pilcher (cortesia agradabilíssima e sempre bem vinda do acervo pessoal de “Lúcia da Biblioteca”).

Comecei com Pilcher. Já que as férias estavam apenas começando e de cara batia aquele medo de passar rápido demais e não dar tempo de fazer tudo que eu planejava, eu queria mergulhar em algo mais intenso. Então, botei o livro debaixo do braço e o devorei com uma satisfação imensa. Já havia lido sua mais conhecida obra, “Os Catadores de Conchas”, cuja premissa me agradou bastante através de uma história em que a autora entrelaça as vidas das personagens como quem tece um tear de fios de ouro. Mostrou-se uma ótima opção para os que apreciam o gênero e fez com que eu colocasse Pilcher em minha lista de favoritos sem pensar duas vezes. Em “Victoria” sua profundidade e sensibilidade se repetem, arquitetando a história da moça que dá nome ao título da obra. Victória é perdidamente apaixonada por um escritor boêmio e individualista que sai de sua vida sem deixar vestígios e retorna após anos com um filho nos braços, envolvendo-a novamente co seu charme e sedução. É assim que ela embarca rumo a Benchoile, onde vai conhecer mais que um lugar deslumbrante, mas também a verdadeira personalidade de Oliver e o amor de John Dunbeath (Mulheres, atenção! Esse é “o” tal!). Contar mais do que isso estraga a surpresa dos interessados de plantão. E olha, a leitura é um relaxante. O enredo envolvente permite que você acabe se identificando com a história de cada personagem. Pilcher descreve imagens e sentimentos com maestria, fazendo transparecer ao leitor a alma de cada um daqueles jovens e senhores, a até mesmo do pequeno Thomaz. Mas sua grande proeza é tornar seu método descritivo o seu maior aliado. Quando li “Os Catadores de Conchas”, me senti nos chalés ingleses, ao pé da lareira, tomando uma xícara de chá quente numa fria tarde de inverno. E não foi diferente em “Victória”. Benchoile, mesmo no inverno da Escócia, provou ser encantador. A autora imprime realidade aos seus cenários de tal forma que em alguns momentos você se pega a ouvir os sons e sentir os aromas da trama. E o tom de mundo real sobressai a história, pois ela apresenta personagens reais, que você pode encontrar em uma dessas esquinas da vida, com problemas reais, aflições, angústias e reviravoltas. Aqueles que esperam o tradicional final feliz devem ser cautelosos. Não que o final não seja feliz, mas antes que ele aconteça (e pode ou não ser bem diferente do que você havia imaginado) você vai se deparar com surpresas ou decepções, encontrando um desfecho mais próximo do nosso “mundinho real”. (E não estou falando apenas de “Victória”, mas de uma característica da autora). E atire a primeira pedra aquele que nunca se emocionou lendo alguma obra de Pilcher. Pois no fim das contas, é assim que Victória entra na vida do leitor, o comove de forma leve e única, e sai deixando uma sensação de conforto, um fio de esperança de que, no final, pode haver sim uma luz no fim do túnel, por mais tortuoso que ele possa parecer.

Saindo, então, de minha saga viciante no universo de Rosamunde Pilcher (foi em uma quarta-feira de cinzas que não pude sossegar enquanto não cheguei ao final da história, lá pelas duas horas da manhã…), resolvi partir para uma opção mais descontraída, e “A Fantástica Volta Ao Mundo” satisfazia bem o gênero, sobretudo quando se vive um momento em que o desejo de botar uma mochila nas costas e sair por aí rodar o mundo sem destino certo é latente… Talvez por isso o relato de Zeca Camargo já andasse na minha lista de sugestões há algum tempo. Confesso que, a princípio, eu esperava que a leitura seria uma incursão cultural pelos países visitados no projeto do Fantástico, com um padrão de descrições mínimas sobre a cultura de cada país e adicionais da viagem. O que não passou de um engano de minha parte, já que o próprio nome da obra já apresentava seu objetivo, “Registros e Bastidores de Viagem”. Assim, a narrativa apresenta ao leitor uma descrição não tanto sobre lugares e pessoas, mas sobre as situações vividas por Zeca e Guilherme durante a aventura, comprovando que por mais diferentes que as culturas sejam entre si, mas parecidas elas acabam sendo quando observadas por olhos um pouco mais atentos e livres de preconceitos e estereótipos. Assim está explícito no prefácio e é assim que acontece em seu conteúdo. Como se conversasse com o leitor, com uma linguagem fácil e cativante, Zeca conduz a viagem com tanta leveza e honestidade que já na terceira escala a gente se sente andando junto com ele no próximo destino da semana. É assim também que ele diverte e faz rir com situações cômicas, sugere reflexão nos momentos propícios e expõe involuntariamente sua empolgação quando ela se faz presente, demonstrando sua paixão pelo ofício e permitindo ao leitor conhecer um pouco mais sobre o próprio autor. Quem acompanhou o projeto pela TV tem motivos em dobro para se divertir com o relato, já que o timer televisivo não permite mostrar nem metade da aventura. Além de que é por trás das câmeras que se escondem os detalhes mais interessantes e até mais relevantes. Assim, o livro funciona como um diário de bordo, até para acompanhar os detalhes (e perrengues) técnicos da produção e as situações em off. Paralelamente a história se torna um relato sobre duas pessoas distante de casa, munidas apenas do estritamente necessário (que, no caso, pesava singelos 130kg), sujeitas à todas as adversidades possíveis (e também as impossíveis!), dependentes apenas de si mesmas e vítimas de seu próprio cansaço, da saudade e do equilíbrio emocional. Para aqueles que não podem simplesmente pegar uma mochila e correr para o aeroporto mais próximo, a aventura satisfaz o desejo de distração e a curiosidade, ao mesmo tempo em que diverte sem ser comercial ou idealista demais. Eu gostei bastante e já estou louca pra conferir “1000 Lugares Fantásticos do Brasil”, também de Zeca Camargo.

Mas já que no plano geográfico eu não posso dar a volta ao mundo, pelo menos posso dar uma volta de quarteirão e chegar até o sebinho (mina de ouro do bairro) que, particularmente, eu vejo como um portal que leve para qualquer dimensão que eu desejar ir. E nessa minha última visita as portas se abriram para uma dimensão bem mais sombria: o universo dos vampiros. Foi em uma tarde de sábado que eu encontrei na prateleira um objeto de desejo que cultivava a tempos: “O Livro dos Vampiros”, uma das mais conhecidas enciclopédias sobre o tema. E de quebra, o Sr. João me indicou “Os Sete”, de André Vianco, ficção que também aborda a cultura dos dentuços. Mas o melhor de tudo é que essa dupla aquisição me custou apenas R$35,00 (!!!), coisa que, apenas pelo primeiro título, algumas livrarias cobram hoje cerca de R$120,00. Foi mesmo um negócio da China, Sr. João! Assim, maravilhada e em estado de êxtase eu saí da volta ao mundo direto pra tumba, com passaporte carimbado para a Transilvânia. Em partes por culpa da minha curiosidade insaciável (que sempre exerce uma força maior do que minha razão permite controlar), e em partes por uma admiração secreta pelas lendas. Em “O Livro dos Vampiros”, J. M. Gordon cria uma espécie de manual para os admiradores, seguidores e afins, abordando tanto a história dos vampiros quanto os mistérios que as lendas e contos envolvem na cultura do homem. Funciona como uma enciclopédias segmentada, seja para adoradores ou céticos. Vale a pena como uma leitura curiosa, e atém mesmo pelas características históricas.

Já o comentário sobre a obra de Vianco eu vou ficar devendo para uma próxima, já que no momento caí de cabeça em outra obra de Pilcher (mais um adorável empréstimo de Lúcia), “Solstício de Inverno”, aparentemente tão deliciosa quanto as experiências anteriores…

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