Na Tv, o especial do Roberto Carlos, da Xuxa e aquele filme batata que todo mundo adivinha antes da emissora anunciar. Nas ruas, um inferno: o 13º do mundo inteiro passeia por bolsos transpirantes em ruas abarrotadas, shoppings que parecem cadeias superlotadas e praias com fila pra comprar um pão e sem água pro banho. O cara que não te cumprimenta durante o ano inteiro vem até o seu andar pra dar um abraço de feliz natal, achando que essa boa ação perdoa o veneno destilado do ano todo. Todas as boas ações sociais acham que podem acabar com a fome do mundo no natal (mas só no natal, porque durante o resto do ano o povo não tem fome, claro…). Enquanto você deixa de comprar o presente caro que o seu sobrinho pediu, troca por um mais ‘em conta’ e deixa o resto da grana pra comprar o presente das crianças daquela cartinha de natal que você adotou, o bonitão que escreveu a carta recebe seu presente com uma mão enquanto a outra carrega um celular de última geração (que você cobiçou quando comprou o seu, mas não tinha grana para aquele modelo) e arremessa na estante da sala caindo aos pedaços (mas que é suportada pelo apoio da tv nova de 42 polegadas em lcd). E por fim, para coroar, na ceia de natal todos os seus familiares sentam-se à mesa como se o amor fosse o único sentimento no ambiente, enquanto o pensamento da sua sogra é que sua cunhada caia da janela quando for olhar os fogos de artifício e seu concunhado cobiça a sobrinha da esposa, que está puxando o saco do avô por causa daquela tão esperada herança.
Vai dizer que não é assim mesmo?!
O dia 25 é só mais um dia no calendário e o 31 é como todo último dia do mês. A gente devia repensar o que faz na vida todos os dias, e não apenas no último dia do ano, para sempre ter aquela velha desculpa de “daqui pra frente tudo vai ser diferente”… Aí passa o próximo ano fazendo bobagem e espera chegar ao fim pra repetir a velha ladainha.
Todo mundo sabe de tudo isso. E ainda assim a sina se repete a cada 365 dias (ou 366 se for ano bissexto). E é assim que a gente renova as forças, o espírito e a esperança para recomeçar e encontrar novos objetivos e metas para conquistar. Ou novas chances de reparar erros e fazer as coisas de um jeito diferente. É aí que está a magia. Tudo dentro da nossa caixola mirabolante.
Porque ao final, mesmo se tudo isso aí em cima acontecer com você, pode ser que um único sorriso faça a história toda valer a pena. Pode ser o sorriso puro e inocente do seu priminho ou aquela risada esculachada da sua bisavó que vai te fazer sentir por um segundo a sensação de felicidade plena. Pode ser só por aquele segundo. Mas não é disso que a vida é feita? De segundos….
Feliz Natal e um 2010 cheio de ‘segundos’!