Quantas vezes por dia você reclama da sua vida. Durante a pandemia, quantas vezes reclamou por permanecer isolado?
Ainda acha que é absurdo ser privado de ir à praia ou ao barzinho enquanto é obrigado a ficar em sua casa ou apartamento.
Quantos quartos tem sua casa? Tem ar condicionado? E piscina?
A próxima vez que uma dessas queixas cruzar a sua mente, pense em um refugiado.
Imagine a situação de alguém que prefere ter sua liberdade tolhida em centros de detenção enquanto aguardam um visto que pode nunca chegar apenas para fugir do terror de onde viviam… E rezam todos os dias não para terem uma casa com piscina, mas simplesmente para não serem mandados embora de onde vieram…
Estado Zero deveria ser uma série obrigatório para todo reclamão-filho-da-pandemia…
A narrativa conta a trajetória do centro de detenção Barton, onde refugiados de todos os cantos do mundo estão em busca de uma visto de proteção para uma vida melhor e, no local, cruzam com Sofie, uma australiana esquizofrênica presa por engano. A história do que acontece dentro das grades de Barton faz até marmanjo barbado chorar.
É quase impossível não sofrer com a longa jornada de Ameer para tentar salvar sua família dos horrores do Talibã. Para pessoas como ele, chegar ao território australiano vivo já é uma gigante vitória…
Ou não torcer para que consiga fugir para o mais longe possível com sua família antes de ser pego.
Ou ainda não gritar com Cam quando ele se deixa corromper pelos horrores de um sistema altamente falido e voltado apenas aos próprios interesses…
Quem representa bem essa dualidade é Claire, a oficial de imigração designada para assumir a bagunça burocrática e deixar o governo bem na mídia. Mas a cada passo para cumprir sua missão, seu lado humano a questiona e consome por dentro. Ela ainda tem salvação, mas quantos estão no sistema e já se encontram totalmente hipnotizados pelo lado obscuro?
Até quando ainda teremos que ver cenas como essa acontecendo de verdade, muitas vezes na parede vizinha… Até quando viveremos em um mundo tão podre que chega a causar náuseas ao pensarmos em quanta barbárie nos cerca?
Que raio de sociedade civilizada somos nós?
Estado zero, assim como O Diário de Anne Frank, é o tapa na cara dos que passam mais tempo reclamando por seus luxos levemente defeituosos ou contrários à sua vontade enquanto há tanta gente que deseja apenas o direito de viver.
Assista com o estômago preparado para ver um retrato talvez até leve da realidade e tire as lições que julgar necessárias para tentar ser alguém melhor. O mundo precisa disso.