Angustiante, claustrofóbico, desesperador, intenso e eletrizante…
Quando alguém te fala “vamos assistir um filme em que só aparece um ator dentro de um caixão o filme todo’, você logo pensa “deve ser chato!’…. Mas se o filme se chamar “Enterrado Vivo”, e o ator dentro do caixão for Ryan Reynolds, você não pode perder!!
O cara conseguiu a proeza de segurar 90 minutos de filme sozinho de forma fantástica. Não há cenários, não é espaço nem para se mexer e o único contato com o mundo 7 palmos acima dele é um celular com a bateria prestes a acabar. Quem não se desesperar não deve ter sangue correndo nas veias….
Adicione aí um conflitozinho no Iraque e pronto: receita perfeita!
(Se você não quer estragar as surpresas antes de ver o filme, pare de ler aqui!)
Mas partamos do princípio. Paul Conroy é um caminhoneiro que está a serviço no Iraque. O longa tem início quando ele simplesmente acorda com a terrível sensação de sufocamento e escuridão: ele está amordaçado e amarrado dentro de um caixão. Imagine acordar depois de ver seu comboio ser atacado por israelenses e se pegar nessa situação!
A partir daí uma cadeia sem fim de eventos vai revelar muito mais do que uma vítima de sequestro no Iraque: burocracia, conflitos políticos, a ineficiência não decretada da equipe de resgate estadunidense e uma empresa preocupada apenas com seus processos jurídicos são algumas dos subtemas que, sozinho, Reynolds consegue levar a um patamar de reflexão maior que muitos debates mundo afora.
Depois do desespero inicial, quando se dá conta que tem um celular, ele contata a emergência, a mulher, outra parente, o FBI, a empresa para a qual estava trabalhando, o Departamento de Estado, e dentre todas as ligações enfrenta as mais adversas situações até que um dos agentes responsáveis por ações de resgate no Iraque comece uma ação de contato com o caminhoneiro.
Detalhe: para ajudar, Conroy sofre de ansiedade e toma até remédios para tal, o que gera várias crises durante a trama (e não é para menos, né!!).
Entre uma ligação e outra, os israelenses que o colocaram lá entram em contato exigindo 5 milhões como resgate, que na negociação cai para 1 milhão. E quem acredita que o governo americano pagaria 1 milhão por um caminhoneiro que eles não faziam a mínima idéia de onde estava enterrado???
E as ligações continuam, e os sequestradores, por assim dizer, obrigam Conroy a gravar um vídeo com pedido de resgate, enviam a ele um vídeo com o assassinato de sua colega de trabalho e exigem a ele que corte seu polegar e envie um vídeo comprovando o feito, caso contrário matariam sua família. Ah, nesse meio tempo, ele teve que se livrar de uma cobra que entrou em seu caixão por um feixe da madeira, ateando fogo nela e quase no caixão todo.
Entre as conversas com o agente de resgate, uma das perguntas fatídicas de Conroy era quantos resgates com sucesso já haviam sido realizados. E após hesitar bastante, o agente responde que não muitos. Conroy pede nomes, precisava de uma faísca de esperança que indicasse que eles realmente se importavam com as vítimas. E o agente lhe fala sobre Mark White…
Mas entre as peripécias governamentais e as burocracias da equipe de resgate (e a péssima sensação de estar com as mãos atadas), na minha opinião o ápice da revolta vem com a ligação do chefe de departamento pessoal da empresa de Conroy, para quem ele tinha deixado uma mensagem em uma das muitas tentativas de fazer contato com o mundo. Os filhas da mãe tem a cara de pau de ligar e gravar a conversa com Conroy pedindo a ele que confirme as informações de que trabalhava na empresa com um contrato ao qual estava de acordo, que sabia dos perigos que enfrentaria no Iraque e, por fim, desligando o empregado da empresa a partir daquela manhã (não cobrindo o horário do ataque ao comboio em diante!!!) alegando seu envolvimento pessoal com outra funcionária da companhia (a que Conroy viu ser morta no vídeo enviado pelos sequestradores). Meu Deus do céu!!! É pura falta de sacanagem!!! O cara está debaixo da terra, quase sem oxigênio, sem ter idéia de se poderá sair dali e ainda tem que ouvir uma dessa, além de morrer sabendo que sua família não receberá qualquer segura de vida e que sua mulher ainda pode achar que ele tinha um caso com outra. Desgraça pouca é bobagem…
Eis então que, sem polegar, sem emprego e sem perspectiva, Conroy percebe uma explosão acima de onde está enterrado. O problema é que a explosão estoura seu caixão e começa a entrar terra feito um deus nos acuda dentro daquele cubículo, o que o fará morrer em poucas horas. Nisso, o agente de resgate liga dizendo que conseguiram encontrar sua localização através de um israelense preso pelas forças americanas e que em poucos minutos, segundos, ele seria salvo. E naquele folgor da conversa, eles indicam estar abrindo o caixão, mas Conroy não percebe qualquer movimento que não seja a areia preenchendo todo seu espaço. Até que o agente solta as palavras mortais…. “Oh my God, I’m sorry Paul…. Is Mark White…”. O israelense, mais uma vítima dos conflitos de seu país, indicou onde estava enterrado o americano… Mark White… O mesmo que o agente disse para Paul que tinha sido salvo há poucas semanas…. Nessa hora é você, telespectador, quem para de respirar….
Quando tudo terminar e você sair da sessão com um misto de desespero e revolta, vai notar que 90 minutos se passaram sem que você nem pudesse se dar conta.
É uma estréia de tanto na direção para o espanhol Rodrigo Cortés e o passaporte para o hall dos bons atores para Reynolds, que vem tentando há algum tempo conquistar seu espaço mas ainda era perseguido por seus papéis em comédias adolescentes e na sombra de seu ex-casamento com Scarlet Johansson. Se Lanterna Verde vai colocá-lo entre os destaques da vez, é com Enterrado Vivo que ele atesta seu potencial.