Uma prova de amor inusitada e um tanto contraditória…
É assim que definimos no primeiro impacto a ação do fotógrafo Angelo Merendino, que registrou todos os passos da luta de sua mulher, Jennifer, contra o câncer. E agora você deve estar pensando o mesmo que eu: “mas que decisão insensível e de mau gosto!”. Mas é só acompanhando a série que você se dá conta de seu significado…
É mais do que natural que a primeira reação à proposta de alguém que decide retratar todas as etapas da luta contra o câncer de alguém próximo e o apagar de uma luz seja motivo para questionar o quanto essa exposição pode ser ‘degradante ou desrespeitosa. Mas você já parou para pensar o que isso significou para a pessoa que e deixou retratar? Alguém que não desejava estar no foco de lentes tão invasivas jamais sorriria para o retrato ou dedicaria seu olhar mais cansado e triste para a câmera.
É chocante e tocante. Causa dúvida e admiração. Revolta e inspiração. Mas acima de tudo, traz esperança. Não a de que alguém pode derrotar o câncer, mas a de que existe alguém no mundo que pode te amar tanto, mas tanto mesmo, que até mesmo a morte pode ser a chave para enxergarmos o que é realmente precioso na vida.
Em seu site *My wife’s fight with breast cancer* (vale espiar!), Angelo conta que a primeira vez que ele viu Jennifer soube que ela era a mulher de sua vida. Seis meses depois ele a pediu em casamento e menos de um ano depois já estavam casados.
Cinco meses depois, Jennifer foi diagnosticada com câncer de mama. Ele conta que lembra do exato momento, da voz de Jennifer e da sensação de dormência que o atingiram quando ficou sabendo e de como esta sensação nunca foi embora. Ele também nunca se esqueceu de como se olharam e se deram as mãos e disseram um para o outro que estavam juntos e que ficariam bem.
Com cada desafio, eles ficaram mais próximos e palavras perderam a importância. Foram 4 anos de batalha, de dores, de olhares, de apoio, de amigos especiais, de internações, tratamentos em que Jen ensinou Angelo a amar, escutar, dar e acreditar em si mesmo e nos outros. Apesar da situação ele conta que ele nunca foi tão feliz, quanto nestes anos.
As pessoas presumem que os tratamentos deixam você melhor, que tudo fica bem e que sua vida volta ao normal. Entretanto, não existe normalidade na terra do câncer. As fotos de Angelo procuram retratar o dia-a-dia dele e sua esposa, na esperança de humanizar o rosto do câncer e o rosto de sua Jen.
Elas representam os desafios, as dificuldades, medo, tristeza e solidão que enfrentaram, que Jennifer enfrentou enquanto lutava contra a doença. Mas o mais importante de tudo, elas representam o amor de Angelo e Jennifer.
Angelo diz que estas fotos não definem quem são, mas que são quem eles são.
Câncer é uma doença comum e com essa série o fotógrafo espera que na próxima vez que você conhecer alguém que o tenha, que quando perguntar para a pessoa como ela se sente, você compreenda com empatia e preocupação sincera a sua resposta.
É difícil segurar as lágrimas vendo esta série, ainda mais se você passou pelo processo de ter alguém próximo que batalhou contra esta doença.
Depois da morte de Jeniffer o trabalho de Angelo ganhou visibilidade e certamente o caminho para muitas oportunidades. Pode parecer egoísta e frio. Mas esse mesmo trabalho permitiu manter a memória de sua mulher viva para sempre…
Fonte: Mistura Urbana