Na corrida pelo Oscar, Tick Tick… BOOM! é o longa que conta a história de um dos maiores influenciadores da Broadway moderna justamente com uma história off-Broadway.
A marca dos 30 anos é sempre uma fase de expectativas e cobranças para qualquer jovem adulto, não importa onde ele vive. Mas para o jovem adulto nova iorquino, que trabalha em uma lanchonete, não tem dinheiro, vive os mesmos dramas que qualquer um de nós, meros mortais, e precisa se provar capaz de transformar seu sonho de carreira em realidade, essa contagem regressiva pode ser ainda mais cheia de pressões.
E é exatamente essa fase da vida do dramaturgo Jonathan Larson que o longa Tick Tick… BOOM! retrata. A história, que foi uma semiautobiografia escrita e encenada pelo autor na off-Broadway, retrata sua própria saga durante os oito longos anos que batalhou para escrever seu primeiro musical – Superbia – muito antes de ser reconhecido pelo mundo por seu grande sucesso, “Rent”, que marcou história na Broadway e revolucionou o cenário dos musicais nos palcos.
O Larson apresentado aqui por Andrew Garfield (visceral e totalmente entregue ao papel) pode gerar identificação imediata com qualquer jovem que batalha por um sonho justamente por retratar a realidade dura, nua e crua: ele rala em um subemprego para ganhar pouco, mora em um lugar deplorável, faz festas que não pode pagar e passa os dias equilibrando a falta de tempo para dar atenção à namorada com seus próprios sonhos e aos amigos – alguns dos quais vê sendo levados pela AIDS antes mesmo de chegarem aos 30 – enquanto tenta finalizar seu roteiro para não ser um fracassado aos 30, lidando com todas as frustrações possíveis de uma única vez. Parece muita cobrança…. Mas não é o que todos nós vivemos em algum momento perto dessa marca etária?
Nas mãos de Lin-Manuel Miranda, todo esse drama ganha linhas agradáveis, por vezes com uma tônica cômica que alivia as tensões, mas sempre com a sensibilidade de quem tentou mostrar da forma mais real possível a essência de Larson: um jovem à frente de seu tempo, simples e que preferiu acreditar em seu sonho, por mais difícil que fosse conquista-lo, a se render às facilidades de uma vida que oferta dinheiro e conforto sem o real prazer de se fazer aquilo que ama (e não é esse o grande paradigma de milhões de pessoas a cada amanhecer?).
Toda essa costura é delicadamente enviesada por canções capazes de elevar a pulsação do espectador sem que ele nem mesmo perceba, embalando os detalhes da história do dramaturgo com o merecido reconhecimento e mérito por seu trabalho durante seus 35 anos de vida. Larson tragicamente nos deixou na manhã da data marcada para a estreia da primeira apresentação de Rent na Broadway, vítima de um aneurisma e de uma Síndrome de Marfan não identificada. Pela obra, ganhou postumamente o Prêmio Pulitzer de Drama e três Tonys de Melhor Livro de Musical, Melhor Musical e Melhor Trilha Sonora Original.
Os apaixonados pelo mundo das artes terão ainda mais motivos para gostar do longa, que respira o universo artístico na Nova Iorque dos anos 90 e todas as suas grandes referências. Para os fãs de musicais, é um deleite emocional. Mas mesmo aqueles que não simpatizam ou têm contato com este mundo encontrarão razões para se identificar com os dilemas reais de Larson, que poderia ser aquele seu amigo de faculdade, que viveu até o momento de sua morte como qualquer um de nós, já que sua alçada ao estrelato foi prematuramente interrompida por sua partida deste mundo. Seu legado, no entanto, não será esquecido tão cedo.
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