Desde seu anúncio Homem-Aranha 3 vem sendo o filme mais esperado da seqüência interpretada pelo aracnídeo tão querido do planeta. Tanto é que sua estréia internacional lotou as salas de cinema no mundo todo, foi responsável por filas quilométricas e deixou muita gente zangada quando os ingressos se esgotaram… Mas por fim, entre os primeiros ou os últimos, todos puderam (ou ainda podem) conferir o resultado da tão aguardada aventura. Dentre os vários ingredientes, o roteiro está repleto de vilões de peso, crises existenciais, surpresas boas e más, e, acima de tudo, lições para a vida real, algumas singelas e eficientes, e outras nem tanto.
A seqüência começa mostrando como Aranha se tornou o herói do momento em Nova York ao mesmo tempo em que apresenta o sucesso fracassado de Mary Jane na Broadway, implicando no primeiro contraste do filme: a crise de sonhos e ambições do casal Peter-MJ. Enquanto isso, nosso vilões vão sendo apresentado, um a um: Homem-Areia e o drama familiar que se tornou seu carma; o fotógrafo inescrupuloso que acaba vítima de sua própria ambição; a montanha-russa de sentimentos de Harry Osborn e sua relação tempestuosa com Peter e MJ; a filha do chefe de polícia e aspirante a modelo que entra de gaiato da crise conjugal de Peter e MJ; JJ mais uma vez tentando provar incansavelmente o lado negro do Homem-Aranha; e por fim, a maior batalha de todas, a luta interna do próprio Aranha contra seus sentimentos mais obscuros e seu lado que jamais fora antes revelado, agora apenas aguçado pelos poderes da misteriosa criatura alienígena que dá origem ao asqueroso Venon.
Assim, aos poucos, várias tramas paralelas vão se delineando até se cruzarem no momento crucial do filme, em que todas as personagens travam a grande batalha final, que é não apenas física, mas de emoções e identidades, em que a índole e a personalidade de cada um estão em jogo. É então que o filme se divide no delicado limiar entre o final perfeito ou decepcionante.
Sem dúvida alguma o filme é o mais profundo no quesito emocional, pois ele aborda de forma consistente os dramas internos de cada personagem, gerando imediata empatia do público. “A maior batalha será interna”, diziam os teasers e trailers do filme. E esse realmente é o ponto alto da trama. A luta de Peter Parker para buscar um sentido em sua vida representa nossas próprias angústias, deixando o estigma de herói de lado por um instante para tratá-lo como ser humano, que convive com a presença do bem e do mal constantemente dentro de si. Todos temos dois lados em nossas “almas”, e muitas vezes nosso lado mais obscuro vem a tona, trazendo com ele muitas dúvidas, questionamentos, problemas e surpresas muitas vezes nada agradáveis. Assim como Parker cede por um momento ao seu desejo de vingança e revolta, nós também temos nossos momentos, e também como ele, nem sempre buscar a redenção é o caminho mais fácil, mas é aquele no qual reencontramos as peças que havíamos perdido ou abandonado pelo caminho. “Mais importante do que ser perdoado é saber perdoar a si mesmo”… sábias palavras tia May. Esse é o primeiro passo para reencontrar o caminho de volta. Afinal, “suas ações definem o que você é”, como um certo Batman há algum tempo nos ensinou, e o homem-Aranha agora reforça sua mensagem e assina embaixo.
Mas ao mesmo tempo, essa mensagem de perdão e redenção se perde um pouco da realidade ao final do filme, ao optar pelo “final feliz”, em que Harry se volta para o lado do bem e ajuda Peter Parker, encontrando sua redenção no próprio fim. Todos sabemos bem que, infelizmente, no mundo real não é bem assim que as coisas funcionam (e, nesse caso, nem nos quadrinhos), e com isso o filme se perde em um caminho que trilhava tão delicadamente bem.
A concentração de vários vilões no mesmo filme é outro fator que, ao mesmo tempo em que cria picos eletrizantes nas cenas de ação, acaba realizando uma abordagem superficial sobre cada um deles, características que poderiam ter sido melhores aprofundadas e condensadas ao longo de mais de um único episódio, deixando a barda para o próximo enredo.
Mas no fim das contas, não dá pra negar que o resultado da obra é de boa qualidade, mesmo que não agrade completamente os fãs incontestáveis. Efeitos especiais de tirar o fôlego, atuações intensas, uma sensação de amadurecimento, ótimas tiradas de humor e um clima que não deixa o cinéfilo descansar nem por um segundo, Homem-Aranha 3 nos leva por um caminho emocionante em sua construção de “teias humanas”, e deixa por fim uma reflexão interna sobre nossos próprios conflitos e nossa incessante luta para buscar o caminho certo entre a razão e a emoção no cotidiano da vida real, avaliando tudo aquilo que realmente nos define e nos constrói.
lipe fonseca
17 de maio de 2007 at 11:40Concordo sobre a superficialidade dos vilões. Eu teria contado no filme apenas a história do Venom, que é, de longe, a mais interessante das histórias do Spider. Mas, ainda assim, filme maravilhoso. Abraços.