Em Busca do Vale Encantado
Quando penso em um desenho que tenha marcado minha infância, a primeira coisa que me vem à mente é “Em Busca do Vale Encantado”.
Claro que esse não é o único que foi importante ou que está em minha lista de preferências (por sinal, bem longa). Aliás, posso me considerar uma pessoa “plenamente satisfeita” com minhas infância cinematográfica, desde os clássicos desenhos animados que eram atração imperdível do Xou da Xuxa e da Mara Maravilha (agora estou me sentindo muito, muito velha) até os sucessos da grande tela: Caverna do Dragão (que vai virar filme), Thundercats (vai virar animação), He-Man e She-Ra (lançados recentemente em DVD), Smurfs, Tartaguras Ninjas (também de volta em animação), Branca de Neve, A Pequena Sereia, a Bela e a Fera, A Bela Adormecida, Bernardo e Bianca, Superman, Thor, Pica-Pau, Tico e Teco, Mickey e Donald, Pateta, Ursinhos Carinhosos, Scooby-Doo, enfim, nem três páginas deste blog seriam suficientes para listar todos, pois cada qual teve sua particularidade e importâncias, e seria injusto esquecer algum.
Mas existe certa magia que torna inexplicável essa minha identificação com este desenho de 1988, sentimento este que veio à tona nesse final de semana, quando tive a oportunidade de revê-lo após tanto tempo pegando poeira na prateleira.
Em Busca do Vale Encantado conta a jornada de Littlefoot e quatro dinossaurinhos que, separados de seus pais na grande explosão que dividiu os continentes da Terra, partem em busca do vale encantado para reencontrá-los.
Ao contrário da grande maioria dos desenhos clássicos, em que a história parra por alguns altos e baixos mas mantém rumo certo ao final feliz, seu diferencial se traduz na metáfora utilizada para transmitir através das tragédias vividas pelas personagens uma história sobre companheirismo, tolerância, respeito, perseverança e união.
A impecável cena de abertura apresenta o contexto da era pré-histórica, em que dinossauros habitavam o planeta e a Terra encontrava-se em fase de transformação, com a pangéia prestes a ser dividida para a atual formação dos continentes. As personagens são apresentadas no momento do nascimento, com a proteção dos pais, a divisão das espécies e a luta pela sobrevivência na cadeia alimentar. E nesse entremeio, Littlefoot é o pescoçudo que acompanha sua mãe e avós na busca pelo vale encantado, em que há água, comida e abrigo, local em que a natureza ainda reina.
É então que conhecemos também Saura, uma dinossaura esquentadinha, brigona e orgulhosa, que acaba se metendo com Littlefoot numa grande encrenca ao provocar um Tiranossauro Rex. O instinto maternal da pescoçuda não deixa por menos e ela imediatamente parte em defesa dos pequenos, ao mesmo tempo em que explosões e terremotos assolam os continentes. Muito enfraquecida pela luta, mas conseguindo salvar Littlefoot e Saura, ela pede que ele siga seu coração no caminho do sol, até a rocha que parece um pescoçudo, para encontrar o vale, e despede-se dele com um último suspiro.
Triste e sozinho, o pequenino segue o conselho de sua mãe, mas encontra em sua viagem quatro dinossauros que também foram separados de seus pais: Patassaura, uma doce dinossaurinha que leva alegria ao grupo; Petrúcio, um voador que não consegue voar; Espora, o grandão quietinho da turma; e Saura. Juntos, eles poderão contar apenas uns com os outros para enfrentar seus próprios fantasmas e os perigos que atravessam sua jornada, aprendendo que união e companheirismo são indispensáveis para garantir não apenas sua sobrevivência, mas o verdadeiro significado da existência.
O que vemos, então, é o nascimento de uma grande família. Mas como o verdadeiro tesouro é conquistado apenas com dedicação e merecimento, Littlefoot e Saura passarão por maus bocados até compreenderem que o orgulho e o egoísmo não leva à nada, a não ser discórdia e solidão.
O visual que segue a tradicional animação 2D de antigamente é impecável, e nem mesmo as transformações tecnológicas de hoje conseguem diminuir a qualidade e capricho do desenho, mérito que carrega o nome de Steven Spielberg e George Lucas. A trilha sonora não deixa por menos, e “If We Hold On Together” é capaz de causar arrepios até hoje ao reavivar a lembrança do filme, que arranca lágrimas de muito marmanjo (inclusive as minhas, que não devo ter assistido uma única vez sem abrir o bocão no final).
Uma história melancólica e triste, de valor inestimável, a magia do longa está na lição transmitida, tornando-o um clássico sempre atual, a qualquer tempo e em qualquer idade. Tanto que originou ainda outras muitas continuações (até onde tenho notícias, 12) que contam as aventuras da turminha no vale, mas nenhuma delas chega sequer perto de ser tão profunda ou significativa quanto o primeiro (e “único”) desenho.
Se compararmos com os desenhos animados de hoje, sempre privilegiando histórias engraçados, dinâmicas e satíricas para satisfazer a exigente geração do futuro, o contraste é ainda maior. Mas toda criança deveria se dar a honra de conferir o filme. Ou melhor, toda pessoa, jovem ou adulto. Afinal, nos dias de hoje não é sempre que podermos ver um análise tão sincera sobre amizade e união, sentimentos extintos na sociedade globalizada. Mas, como nos mostra a história, sempre há uma esperança que nos alimenta até mesmo quando acreditamos que ela não existe mais.
E se você quiser matar a saudade…
Em Busca do Vale Encantado