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Premonições sobre o que não fazer em um filme

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Quando a gente faz uma sessão tripla de suspense e drama até sabe que está exposto ao risco de ver coisas bem diferentes entre si, mas não extremos opostos em um mesmo filme…
A premissa de Premonições é capaz de deixar o espectador bastante curioso para ver como a idéia poderia se desenvolver de forma coerente. O nome de Sandra Bullock no elenco só aguça ainda mais essa curiosidade. Especialista em comédias românticas e coisas do gênero, seria interessante ver uma atuação fora do padrão que a moça vem seguindo ao longo da carreira, salvo exceções como o drama quase oscarizado, Crash – No limite (no qual saiu-se muito bem).


O longa conta a história de Linda, uma dona de casa que passa a ter prenúncios sobre a morte do marido e faz de tudo para evitá-la. Após o primeiro pesadelo, o tempo deixa de seguir uma ordem cronológica natural, alternando dias do futuro com o presente, o que faz Linda interligar os fatos para saber o dia exato da morte de Jim a tempo de salvá-lo, ao mesmo tempo em que precisar lidar com revelações e acontecimentos inexplicáveis.


Sandra novamente saiu-se bem. Ela convence como a esposa que vive um casamento desgastado e mãe que tem de lidar com as filhas em fase de transformação, papel que certamente vai gerar identificação imediata em muitas telespectadores, sobretudo no que diz respeito aos relacionamentos e sua sobrevivência ao longo dos anos. Julian McMahon também faz sua parte, apesar de ser difícil não vê-lo como o Dr. McNamara, herança eterna em sua carreira por Nip Tuk. A química entre os dois (ou melhor, a anti-química entre o casal frustrado) pode não ser das melhores, mas funciona. E a trama extremamente bem amarrada, como uma colcha-de-retalhos, deixa a mente do cinéfilo a mil para acompanhar todos os detalhes e encaixar as peças do quebra-cabeças.

O que saiu errado? Os três últimos minutos do filme. O final da história consegue destruir toda a investida tão bem-feita do enredo, todo o trabalho arquitetado pelos escritores, produtores e diretores vai abaixo com aqueles três minutos finais. Qualquer vislumbre de moral da história se perde e a impressão que fica é de que eles realizaram a cena a corte de orçamento e tempo esgotado, sem a menor vontade de criar algo plausível para fechar a trama com a esperada coerência mínima de um filme. Eles acabam jogando fora todo o sentido e coesão da trama por conta daqueles terríveis três minutos. Não que esperássemos o tradicional final feliz, nada disso. Mas uma explicação lógica, alguma lição para toda a história era fundamental.

Então meu conselho é o seguinte: assista, pois o filme é muito bom. Mas quando faltarem três minutos para acabar, desligue a TV. Vá tomar um sorvete, comer pipoca, namorar, mude de canal, qualquer coisa, mas não assista os três minutos finais. A menos que você queira saber como não fazer o final de um filme, aí você pode assistir, pois tem o material certo em mãos. Jamais eu havia amado e odiado um filem até então, mas agora já posso dizer que sei como é a sensação.

Depois dessa, os outros dois filmes ficaram sem qualquer crédito com nosso grupo de cinéfilos empoleirados na sala. Mas como ainda tinha bastante pipoca, seguimos adiante com a sessão. E já que o lance era conferir comediantes em papéis sérios, mantivemos essa linha de raciocínio…

Quem assistiu a majestosa atuação de Jim Carrey em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças sabe bem que o potencial dramático do rapaz é não é brincadeira, superando sem esforço seu conhecido título de comediante. Não que ele não faça boas comédias, mas a grande maioria é sempre algum exagero da indústria cinematográfica com atuações artificiais e enjoativas. Já sua veia dramática surpreende até os mais descrentes.

Em Número 23 Carrey vive o atormentado Walter, um homem com um passado de sombras e incertezas que, após ganhar de sua esposa um livro intitulado “Número 23”, passa a ser perseguido pela história do livro e por devaneios que o levam a um desfecho surpreendente, revelando não apenas o significado de seus pesadelos, mas os verdadeiros acontecimentos por trás de seu passado.

Dividido entre tempo real e flash-backs, o longa é uma amarrado perfeito de detalhes que conduzem a trama para um desfecho que deixa o telespectador boquiaberto (ou pelo menos satisfeito). O ritmo foge do padrão habitual de Hollywood, o que pode não agradar aos mais tradicionais ou reservados, mas certamente vai cair no gosto daqueles que apreciam um pouco de cinema contemporâneo para variar.

Com um elenco impecável, sem abusos e um final que dá o tom de realismo lógico à história, Número 23 é praticamente uma obra de arte em tempos nos quais filmes de suspense geralmente acabam resumidos à muitos gritos, algum sangue e um grupo de adolescentes em fuga desenfreada, divididos entre salvar sua própria vida ou saciar seus instintos hormonais.

Aliás, vai ver até o filme nem é todo esse esplendor. Mas depois da decepção com o final de Premonições, despidos de qualquer expectativa, qualquer coisa com um final decente pode ser classificada como ótima (não desmerecendo Carrey e muito menos seu longa).

Mas nada como um suspense bandejão nos moldes tradicionais de Hollywood. Temos Vagas fechou a noite com chave de ouro.

O longa conta a história de um casal que está em vias de separação após o trauma da morte do filho, e acaba perdido em uma rodovia fora da interestadual no meio da madrugada, indo parar em um hotel deserto onde descobrirão que por trás dos tubos de ventilação, portas e janelas há um macabro parque de diversões sádico para satisfazer os instintos assassinos do proprietário e sua gangue.

Sangue, gritos e sustos fáceis ainda são receita de sucesso para o gênero do suspense e tem o poder de causar frio na espinha do telespectador mais atento. Sem surpresas, sem novidades e sem traumas. Apenas o velho e bom suspense advindo dos seguidores de Hitchcock.

Kate Beckinsale e Luke Wilson vivem o casal em crise. Ela, a mãe que se culpa pela morte do filho, mas rejeita a dor com sua auto-reserva. Ele, o marido cansado que ainda tem esperanças.

Simples assim. O final pode até não ter sido dos melhores, mas cumpre seu papel. E foi assim que fechamos nossa sessão surpresa (ou sessão de extremos, diria eu…). Na dúvida, assista A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. As caras do Jonnhy Depp já valem a sessão.

0 thoughts on “Premonições sobre o que não fazer em um filme

  1. Reply
    lipe fonseca
    27 de setembro de 2007 at 12:46

    Número 23 tem um dos melhores finais de filme! Posso garantir porque vi antes de Premonições, que, tá, é legal, mas sei lá, confuso em exagero. Este filme é apenas um final, o que vem antes foi colocado ali para justificar ou qualquer coisa parecida. E não dá para ver o ator principal sem lembrar do Quarteto Fantástico. Um filme Supercine, sábado à noite sem nada para fazer.

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