Cidade e parques de diversão desbravados, é hora de colocar um pouco de natureza em nossa aventura no trajeto até Las Vegas. E cruzar o deserto do Mojave e o Death Valley é uma experiência tão intensa quanto o cenário…
Depois de nos habituarmos ao motorhome e passarmos por dois dias de diversão na veia nos parques da Disney, chegou o momento de deixar Anaheim para trás e partir em direção à Vegas. Mas não seria apenas uma estrada qualquer: cruzaríamos o deserto do Mojave e faríamos uma parada para conhecer o Death Valley. A programação em si era bem simples:
- 08:00 – Café da manhã
- 09:00 – Death Valley via Mojave Desert
- 17:00 – Viva Las Vegas!
Mas cruzar essa imensidão árida por sete horas reserva cenários surpreendentes e torna o tempo mais longo… Vem ver como foi!
DEIXANDO ANAHEIM
Como eu ia dizendo, hoje foi dia de deixar Anaheim rumo ao Death Valley. Com o quinto banho finalizado o nosso reservatório de Grey Watter atingiu o limite e um de nós teve que esperar pra ficar limpinho até encontrarmos uma Dump Station. Dirigimos quase uma hora até a entrada do Agate Park, em Jurupa Valley, que fica um pouco antes de Riverside, e encontramos um ponto gratuito pra fazer o dump. Ainda deu pra estacionar em uma sombra boa, garantir um banho demorado, o almoço e um novo dump pra pegarmos a estrada zerados. Como era um domingo, a arena estava fechada, mas o dump station fica do lado de fora mesmo.
De lá programamos o GPS para uma parada em Barstow pra abastecer o tanque antes de chegar em Death Valley. Até porque esse é um dos últimos pontos antes da imensidão desértica. Paramos em um posto a dez minutos de Barstow, em um outlet desativado. Tanque cheio, ligamos pra casa, demos notícias e partimos.
Ao sair de Anaheim o cenário já começou a mostrar mudanças claras, mas de Barstow pra frente a aridez se tornou ainda maior. Estávamos cruzando o deserto de Mojave. As gigantescas montanhas cobertas de areia pareciam uma pintura no céu distante e uma camada marrom intensificava a sensação seca. O verde tenta quebrar alguns pontos na paisagem, mas é claramente engolido pelo deserto em alguns poucos dias.
Eu nunca tinha cruzado um cenário tão árido, vazio e quente. Muito quente.
Calico Ghost Town
Algumas milhas após Barstow passamos por Calico Ghost Town, que rapidamente nos fez entender o por que do nome… Trailers e casas abandonados formavam um comitê de boas vindas em um cenário que parecia realmente a cidade fantasma de um filme. Um pouco mais à frente um depósito repleto de jipes do exército americano confirmava mais uma vez a marca territorialista da hegemonia local. E a direita o museu a céu aberto com esculturas do exército em homenagem a guerra de 64.
Como fomos desavisados, vimos Calico da rodovia principal, mas se você quiser, programe no GPS o desvio para entrar na cidade e tirar mais algumas fotos. A cidade abre às 9h e fecha às 17h, custa USD 8 para entrar (por pessoa) e é imperdível para os fãs de um bom cenário velho oeste.
No passado, Calico foi fundada depois de uma descoberta de minas de prata na cidade no ano de 1881. Depois desde descobrimento ela se tornou a maior produtora de prata da Califórnia, e assim o lugar ficou conhecido e já contava com 3 hotéis, 3 restaurantes, correio, jornal próprio, cinco lojas em geral, resumindo, até bordel tinha por lá, e também um xerife, como nos filmes de velho oeste.
Infelizmente, os anos de glória e de muita exploração estavam chegando ao fim, pois em 1896, com o declínio do comércio da prata, Calico foi perdendo seus habitantes que foram deixando a cidade. Como resultado, com o passar do tempo, a cidade ficou completamente abandonada.
Resumindo: em 1950, Walter Knott comprou Calico e decidiu restaurar toda a cidade. Em 1966, Walter resolveu doar a cidade para o condado de San Bernadinho, e Calico se tornou um Parque Estadual.
Impossível andar por lá e não procurar pelo Clint Eastwood…
Deserto do Mojave
Mais algumas milhas a frente mais sinais de cidade abandonada. Os diques a cada pontilhão sinalizavam tempos antigos em que a água não era assim tão rara, ao lado de placas sobre regiões sujeitas a inundação, que pareciam tal contraditórias ao cenário.
Pra onde se olhava, deserto. E a cada curva, mais deserto.
Seguimos por cerca de quase uma hora até pegar a entrada de Death Valley e cair numa estrada de mão dupla completamente deserta. Alguns poucos carros cruzavam o nosso caminho… Somente sol, calor e muito areia.
Paramos pra registrar uma foto e pra qualquer lado que se olhava, deserto. Era a Reserva Nacional do Deserto do Mojave à nossa direita.
A cada milha era possível perceber as mudanças no solo e o verde aos poucos se intensificou, mas as bacias de areia também ganharam seu próprio contorno.
A última marcação de temperatura aconteceu em Baker, onde ainda tínhamos algum sinal. E era de 37 graus. Mas claramente no meio do deserto era maior, passava fácil os 40. Meu celular gerava um alerta de temperatura toda vez que passava pouco mais de cinco minutos longe da saída de ar condicionado. Há companhias de viagem que não locam veículos para essa região no período de verão, tão altas que as temperaturas podem ser a ponto de derreter os materiais do veículo.
Uma hora depois o verde começou a brotar com mais força no meio do deserto e até uma pequena plantação de trigo surgiu.
Quanto mais perto, melhor era possível notar as mil cores e tons do paredão terroso.
Nesse deserto todo o Mau assumiu o volante, o que me permitiu fazer mais cliques e escrever parte deste post enquanto viajávamos. Depois, neste ponto aqui, foi a minha vez de pilotar.
E se a previsão de viagem até Death Valley era de aproximadamente 5 horas pela rota que traçamos, nós levamos um pouco mais com o Mau cauteloso ao volante.
Foi no por do sol das 18h que chegamos ao portal de Death Valley.
Death Valley
Já nas estradas no Death Valley, seguimos direto para o Zabrieski Point, um local com uma visão impressionante das multicoloridas terras áridas formadas pelo efeito da erosão, onde você pode caminhar a partir de uma trilha pavimentada com cerca de 90 metros. É uma subida e tanto, mas admirar as cores no pôr do sol e com a chegada da lua pode ser uma experiência fantástica! Há quem fique ali esperando por essa transição por horas, e nós demos a sorte de chegar a tempo de pegar as duas visões.
O terreno é chamado de badlands (terras ruins) devido à sua topografia, que torna sua travessia bastante difícil. É composto de sedimentos do Furnace Creek Lake, que secou há cinco milhões de anos — muito antes que o Vale da Morte surgisse. A paisagem corre o perigo de desaparecer pela erosão devido à mudança do curso de um canal.
O nome Zabriskie vem de Christian Brevoort Zabriskie, que foi o vice-presidente e gerente geral da Pacific Coast Borax Company no início do século XX, cujas famosas twenty mule teams (equipes de vinte mulas) foram usadas para transportar bórax das operações mineiras da companhia no Vale da Morte.
Para os viajantes com mais tempo, o Golden Canyons pode ser uma interessante opção de trilha mais selvagem pela natureza árida. Pra nós, infelizmente, não deu tempo.
Bora pra Vegas
Findada nossa visão, era hora de pegar o retorno para Vegas, nossa parada final do dia. E assim como viemos cruzando com mustangs e conversíveis, voltamos também dando tchauzinho pra eles (fazer essa viagem com um conversível também deve render uma aventura e tanto! Nós íamos tentar pegar por um dia pelo menos, mas o cronograma foi muito apertado).
Na volta, o sol já estava quase desaparecido e só nos restava o farol do grandalhão. E muita escuridão. Em alguns momentos, a lua nos ajudava a clarear o caminho. Mas no meio dos canyons e montanhas, era um breu só.
Reduzi a velocidade e assim seguimos rumos à Vegas. Numa looooonga jornada. Depois de um dia inteiro dirigindo, uma hora podem parecer quatro facilmente.
E foi quase no ponto de saída das estradas de Death Valley para a rodovia principal que um serzinho pequeno e veloz cruzou a estrada à nossa frente tão rápido que só deu tempo de olhar no retrovisor para ver se tinha carro atrás antes de frear…. E tinha! Então não tivemos a menos chance de frear rápido com um veículo grande e um carro atrás, aí só ouvimos o “blum” na frente do motorhome…. Eu acho que era um coelho do mato e meu irmão acha que foi só de raspão a porrada. Jamais saberemos… Não ficou nada de resto na estrada pelo que o retrovisor mostrou e depois eu procurei por sangue no para choque e não encontrei. Mas dirigi a hora seguinte sem conseguir tirar da cabeça que eu tinha matado um bichinho ☹
Antes da viagem alguém me contou que a chegada à Vegas tem uma visão fantástica das inúmeras placas de energia solar no caminho. Não tenho ideia nem se passei por elas. A escuridão tomava conta de tudo.
Um pouco antes de chegar à Vegas paramos em Amargosa Valley para abastecer, pertinho da área 51… E a curiosidade para saber se era longe ou não? Mas àquela hora da noite e com meu irmão cansadão, achei melhor não arriscar o pedido, rs.
Reta final para Vegas e uma expectativa em mente: as luzes. Sempre disseram tanto que Vegas era uma rua enorme e tão iluminada no meio do deserto que eu imaginava que seria possível ver isso de longe. E aí, toda vez que eu via um conglomerado iluminado no meio do nada, pensava “é ali!”.
Mas aí percebi que esse ali se aproximava e nunca era Vegas… Numa das vezes era o aeroporto! Hahaha… E quando chegamos em Vegas de verdade, nada daquela luz toda. Fiquei frustrada! Sempre imaginei errado! Kkkk…
Apesar de querer muito ter um gostinho da rua tão famosa já neste dia, já eram mais de 11 da noite e estávamos podres de dirigir o dia todo. Então encontramos um Walmart em que pudéssemos pernoitar e só fizemos uma parada para comer antes de sossegar. A escolha: o Hooters. Nunca um lanche foi tão delicioso tamanha a fome depois de um dia inteiro no deserto movido à congelados e batatinhas…
Pernoitamos no Arroyo Square Market, mais um outlet pra conta. E descansamos com um foco em mente: Vegas, Baby!
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