Existe algo melhor do que mergulhar de corpo e alma no universo da fantasia? Sem medo de julgamentos ou limites, sem amarras para a criatividade? E ainda – a melhor parte – sem perder a inocência que a saudosa infância permite?
Pois é neste clima que Peter Pan nos leva de volta à tão conhecida (e por que não desejada?!) Terra do Nunca na nova adaptação de um dos contos mais fascinantes do universo infanto-juvenil.
Sob a batuta do Diretor Jow Wrigth (de Orgulho e Preconceito), nesta versão conhecemos as origens do personagem que faz todos desejarmos nunca mais crescer (e quem nunca teve Síndrome de Peter Pan?), bem como a de seu maior rival, o Capitão Gancho, além de sermos apresentados ao maior pirata de todos os tempos: o Barba Negra.
E enquanto tudo começa aparentemente dentro do esperado pelo conto popular, você vai ter belas surpresas ao aterrissar de navio (literalmente) nas minas do pirata malvado que escraviza órfãos em busca de pó de fada para seu rejuvenescimento. Afinal, quantas vezes você já viu um pirata ser recebido por uma multidão que entoa “Smells Like Teen Spirit” Do Nirvana em coro? Ou ainda decidir se meninos levados serão ou não castigados ao som de “Hey ho, lets go!” em outra versão de hino coletivo do Ramones? É nesse momento que você percebe que para este Peter Pan a fantasia não tem limites. Então você se joga, dá asas à imaginação e deixa aquele pequeno brilho de inocência há muito tempo escondido na mente atormentada de um adulto cheio de afazeres se levar pela magia do cinema.
Assim, com o tom da aventura definido, o espectador é levado a conhecer em pequenos detalhes a origem de Pan, que muito antes de ser o líder dos garotos perdidos seguro e confiante passa pela descoberta de seus próprios medos e o conflito de sentimentos pela ausência da mãe (explicada na trama) e sua própria confiança. Ou ainda as raízes do vilão, que agora podemos ver muito mais como antagonista, Capitão Gancho, que não é de todo mal e tem sim um bom coração por trás das malvadezas de seu convés. Sua relação de amor e ódio com Pan é construída com destreza pelo enredo e nos faz entender por que o Capitão é tão fissurado em perseguir Peter. Só faltou a explicar quando ele perde a mão para o Crocodilo Tic Tac (mas o medo do réptil já está presente no longa!), o que deve ser tema da continuação do filme e já deixa um “gancho”, com o perdão do trocadilho, para imaginarmos que o Capitão perde a mão para – talvez – salvar Peter com seu bom coração torturado por uma vida de sofrimentos entre a orfandade e a adolescência nas minas de Barba Negra.
E é gancho também quem se apaixona (sim, é isso mesmo!) por outra personagem com vital importância para o filme: Tigrinho, a princesa da tribo selvagem que guarda o reino das fadas. Rooney Mara (lembrando Emily Blunt) traz a leveza feminina à trama e é quem vai ajudar Pan em seu caminho de descobertas e busca pela confiança.
Mas é Barba Negra quem rouba a cena. Hugh Jackman dá vida ao personagem mais marcante das origens de Pan e mostra que por trás de um inexorável Wolverine existe um ator de inúmeras qualidades.
Todos os outros personagens que completam o universo da fantasia nas histórias de Pan estão lá: as fadas (inclusive Sininho), sereias, crocodilos, o sempre divertido Smith, e o grande amigo de Pan, Nibs. Se você já viu os filmes anteriores, vai entender como os garotos perdidos chegam à Terra do Nunca, porque Gancho não é tão mal quanto parece e por que Peter pode voar (não é só o pó de fada….) e não quer crescer. Tudo com a dose certa de humor, emoção, aventura e drama regados à muita fantasia.
Como fã declarada de Pan, mesmo as versões anteriores do filme agradam, tendo entre as mais marcantes o adorável “Hook”, com Robbin Williams e Dustin Hoffman de 1991, e o recente “Peter Pan” de 2003, me agradaram. E daí que Williams era um Pan quarentão?? A grande magia por trás da história é a metáfora sobre o medo que temos de crescer e o quanto a inocência de ser criança pode nos tornar mais fortes, confiantes e destemidos para enfrentar os perigos e desafios da vida.
Para os fãs de Pan, a aventura é um prato cheio. Como aquele livro especial que preenche tantas entrelinhas desconhecidas de seus personagens. Para os demais, talvez seja fantasia em excesso. Mas o fato é que não há como não sair do cinema mais leve e com um discreto e imperceptível sorriso no rosto. A magia de Pan está lá.
Então aproveite o Dia das Crianças, sente na cadeira do cinema com um balde de pipoca, dispa-se de todos os pré-conceitos e volte a ser inocente por quase duas horas. Todos merecemos essa oportunidade algumas vezes na vida… Afinal tem coisa melhor que ser criança?
“Eu acredito!” 😉