“O palitinho se move para cima e para baixo em compassos de três por quatro. É inacreditável o quanto isso me faz feliz. Me sinto viva ao quadrado. Essa explosão de intensa felicidade é simplesmente viciante.”
Talvez seja impossível traduzir em palavras o efeito de uma sinfonia para a mente humana. Alguns estudos sugerem que ela pode até mesmo proporcionar o poder curativo em enfermidade psíquicas e físicas.
Mas se a música tem esse dom, então combinada com a história certa e imagens que ajudem a contextualizar seu vasto significado, então ela se torna muito mais do que uma sinfonia. Se torna um movimento real de transformação.
E o longa Antônia é uma dessas deliciosas combinações que fazem 2h19 de trama se esvair em um piscar de olhos, deixando sabor de quero mais.
A protagonista é o centro da história com o ousado sonho de se tornar uma maestrina, posição ocupada unicamente por homens nos anos 20 e 30. Antônia passa quase uma década batalhando para provar que as mulheres são tão ou mais capazes que os homens de fazer da música um espetáculo.
E cá estamos aqui, quase 100 anos depois e muita evolução à frente, ainda tentando de certo modo provar o mesmo. Mas infelizmente não apenas na música.
A mão delicada da direção conduz a história pelos olhos de Antônia sem tornar o enredo um ato puramente feminista ou destacando a bandeira. As cenas que vemos são simplesmente a realidade, que muitas mulheres ainda vivenciam até hoje.
E às reações da personagem e do público também encontram representações de uma realidade atual: mulheres que não defendem a própria causa, homens com visão e dispostos a contribuir e evoluir com elas, e outros tantos seres enfadonhos que seguem engarrafados em pensamentos sem lógica e atemporais. Sim, tudo isso ainda hoje existe.
Mas é delicioso acompanhar aqueles que se transformam com a ajuda do tempo e um distanciamento para ver as coisas por outra perspectiva. É o caso de Frank, o grande amor de Antônia. Mesmo apaixonado, sua natureza machista por criação acaba levando-o a perder Antônia. E esta, por sua vez, compreende que perseguir seu sonho tem um preço muitas vezes alto demais, além de ser um caminho solitário a maior parte do tempo.
Há ainda personagens especiais como Robin, que precisou encontrar seu próprio caminho para viver da música e se que se torna o grande pilar e parceiro de Antônia.
E como se tudo isso não fosse duro o suficiente, acrescente uma dose de drama familiar e pronto, a receita de um enorme desafio está completa.
Abandonada, desacreditada e sozinha. É assim que Antônia segue rumo ao seu sonho e prova ser possível conquistar o que queremos quando estamos dispostas a enfrentar o que vier à frente.
Tudo isso embalado por sinfonias de grandes nomes da música clássica em um filme tão atual e empoderador.
Ah que deliciosa surpresa para um sábado a noite…. Entrou praquele cantinho especial de coleção de clássicos com música, ali bem no meio de O Som do Coração e A Voz do Coração.
Só assista e se deixe embalar pelas notas musicais afinadas por uma mensagem tão fundamental…
Tem na Netflix.