Essa foi a pergunta que ecoou na mente de milhares de brasileiros a partir dos 10 minutos da partida histórica deste 08 de Julho de 2014. E o que era o sonho do Hexa, de repente e sem aviso, tornou-se o maior pesadelo do século…
Eu jamais pensei que veria isso em toda minha vida. Jamais cogitei essa possibilidade. Talvez por isso fosse tão difícil de acreditar, mesmo depois de terminada a tortura. Mas aconteceu, e vai ecoar na história por muito tempo….
O que afinal aconteceu? Nem mesmo todas as explicações do mundo justificarão o cenário que acompanhamos nesta terça-feira. E enquanto muitos atribuem o fracasso à ausência de Neymar ou Thiago Silva, eu continuo defendendo o pensamento de que esse era o momento que outros jogadores, sempre ofuscados pelo brilho dos craques da mídia, poderiam ter sua oportunidade de brilhar e mostrar ao mundo seu talento. Mas não foi o que vi. Pensamos que o time que segurava a camisa de seu símbolo midiático tão ardentemente no hino entraria em campo com sede de vingança. Mas não foi o que vi.
Eu vi gols. Talvez o maior número em uma mesma partida que eu tenha acompanhado. Mas nenhum deles era do Brasil com o qual eu vibrei na Copa de 1994, quando a Seleção venceu seu primeiro título sem Pelé. Foi naquele ano que eu entendi o real significado da paixão brasileira pelo futebol e do quanto o esporte significava para nossa nação.
Depois disso, vi muita coisa mudar, craques buscarem fama e dinheiro e esquecerem porque realmente estão em campo. Mas ainda tenho em mim a esperança, que hoje olhou para a tela da tv e se perguntou como aquilo poderia ser real…. Um choque de realidade, um sinal de alerta, um último aviso para salvar o futuro do país do futebol…
A grande verdade é que a maior vergonha da história do futebol brasileiro pode ser a nossa maior salvação se assim desejarmos. O placar de hoje leva a dois caminhos: ou sepultaremos de vez a marca única do “país do futebol” com um ponto final que divide com o resto do mundo seu legado, ou temos a chance de usar a história a nosso favor e renovar os laços, a garra e a cara do nosso futebol para mostrar que aprendemos a lição.
Até que saibamos qual será o caminho trilhado, muitas palavras duras serão ditas, as piadas mais infames e inimagináveis nos acompanharão (e as mais dolorosamente divertidas, já que a criatividade brasileira é sempre uma surpreendente caixinha de supresas!) mudanças acontecerão e erros fatalmente serão parte do processo, como em toda mudança. Mas que sirva de choque.
E não adianta agora misturar aquela história de misturar futebol, política e economia. Antes a Copa estivesse comprada! Pelo menos jamais teríamos testemunhado o inacreditável. A coisa toda aqui vai muito além. A torcida fez bonito com os hinos ao longo dos últimos dois anos, mas vai se lembrar da letra desse mesmo hino ao ir par as urnas em outubro? Vai se lembrar desse hino no sábado? Ou será uma torcida hipócrita que acompanha apenas vitórias e renega as derrotas?
E os nossos jogadores? Finalmente perceberão que a oportunidade que têm em mãos, o sonho de tantos jovens que eles apenas conseguiram alcançar, deve ser agarrada, valorizada e celebrada com unhas e dentes? Quantas pessoas desejariam fazer o que gostam para ganhar a vida e não tem escolha… Eles tiveram escolha, oportunidade, e não estão olhando atentamente para isso. E vale dizer que não é regra, apesar de ter sido maioria. Mas vi exceções. Vi um Júlio César lutar com honra para encerrar seu ciclo em copas com louvor e paixão, mostrando nos pênaltis que fez a lição de casa e lutou por sua camisa. Eu vi Davi Luiz desejar com todas as suas forças cumprir o desejo de trazer alegria ao povo brasileiro em cada defesa ao longo de todo campeonato. Eu vi Oscar lutar até o fim, até a última gota de suor, mesmo frente à mais humilhante das situações, e marcar um gol que representa sua dedicação ao time. E vi até mesmo um Marcelo tentando redimir seu gol contra que abriu a Copa no Brasil em 2014 com algumas tentativas de salvar o improvável (e o que se tornou um gol contra diante de um 7 x 0?). Mas eu não vi o Fred em campo… Não vi um Hulk além de sua bunda…. E nem mesmo um Neymar mostrando a que veio antes de deixar o campo mais cedo. Mas eu vi um Brasil apático e congelado pela descrença em seu próprio potencial. Vi um time entregar os pontos e ficar completamente boquiaberto. Vi um goleiro brasileiro desesperado, gritando, inconformado, jogando contra 11 alemães. Vi comentaristas não saberem mais o que dizer ou como narrar a partida. Vi o holocausto alemão acontecer novamente, mas dessa vez em um campo de futebol, de forma honesta, justa e louvável. Nem eles acreditavam….
Eu vi os recordes mais inacreditáveis sendo quebrados, mas dessa vez não eram a nosso favor. Eu vi Felipão ser um grande líder em sua atitude talvez mais primorosa ao assumir o resultado como sua culpa. E eu vi a imprensa ficar boquiaberta, sem saber como documentar, transmitir e acompanhar a notícia mais improvável de todos os tempos, ou nem mesmo o que perguntar ao técnico e aos jogadores. Afinal, eles se preparam para questionar a derrota, mas jamais imaginariam uma derrota de 7×0…
Eu vi o sonho do Hexa ser adiado por mais quatro anos…. Vi o sonho na Copa no Brasil voar pela janela e pegar carona em uma andorinha viajante, sem saber se um dia vai voltar… Vi crianças que nunca viram o Brasil ganhar um mundial chorando… Vi idosos que já viram mais de uma vitória e muitas derrotas olharem desacreditados para um resultado impossível… E eu fico pensando que ainda posso ver mais, porque a coisa toda ainda não terminou…
No próximos sábado temos a disputa pelo terceiro lugar. E amanhã saberemos se vai dar Argentina, nossa eterna rival, na final ou ao nosso lado em campo na disputa pelo bronze. E o que será mais difícil: vê-la campeã do mundo consagrada no ano em que buscávamos com tanto fervor o hexa ou correr o risco de perder o troféu de consolação para ela e ter mais um motivo para repensar o que aconteceu com o nosso futebol?
Em alguns momentos eu ainda não sei exatamente o que vi…
Eu ainda não acredito no que vi. ..
Mas eu quero voltar a acreditar no que um dia eu já vi…